segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O sabor da chuva

O dia está húmido, a chuva continua na sua queda certa… forte… o som da água a bater contra as persianas do meu quarto leva-me a um estado de semi-dormência tal que por breves instantes tenho a nítida sensação de não me encontrar neste mundo.
Sinto na pele o formigueiro de me sentir fechada no meu quarto em pleno domingo… apetece-me sair para a chuva como fazia quando menina, sentir o seu leve toque deixar o meu corpo gelado e em pele de galinha… permitir que a sua mão molhada molde os meus cabelos em pequenos e perfeitos cachos sinuosos com traços de vermelho.
Dou por mim a suster a respiração, com as mãos suadas e frias, fechadas num punho… fecho os olhos e obrigo as minhas mãos a abrir enquanto as enxugo no duro tecido das calças de ganga… forço a respiração a um estado certo e ritmado… “Que se passa comigo?”- Penso… estou num estado alterado como a muito tempo não sentia.
Encosto-me na cama, e forço a mente a ir a ti há nossa conversa do dia anterior:
“-Tenho saudades tuas, engraçado… já vi de diversas maneiras diferentes esse teu cabelo que adoro… apanhado, solto… adorei a trança a Lara Croft!” dizes
“Lara Croft?! Riu-me (Impressionante como para ti é fácil fazeres-me rir), verdade já viste sim… falta veres molhado!”
“Não me provoques… para ver molhado de que maneira seria?”
“Não sei diz-me tu…!”
Desperto do meu sonho acordada com o bip do telemóvel, lanço-lhe um olhar irritado, rapidamente desvanecido quando vejo o teu nome… leio:
“Óptima forma de te ver de cabelo molhado, não te parece? Vem ter comigo a praia… nem que seja por 5 minutos… tenho saudades tuas!”
Não penso duas vezes, ainda te estou a responder e já saio pela porta fora…
“Encontra-me lá em 10 minutos!”
Paro o carro e saio, indiferente a intempérie que cai ao meu redor… Louca, penso vou acabar doente!
Olho ao meu redor e vejo-te… parado… encostado a tua mota… já completamente encharcado… sorris quando me vês sair do carro e diriges-te a mim no teu passo certo e seguro… firme! Posso classificar-te na tua forma de andar como alguém que sabe exactamente o que quer!
Colocas a mão na minha cintura, apertas-me de encontro a ti enquanto suspiras e murmuras: “A vontade que te tinha de te sentir!”
Encostas os teus lábios aos meus sem a urgência que deixaste transparecer na tua voz… saboreias e permites que o faça aos teus lábios… por instantes tudo se une em algo perfeito… o teu toque… o da chuva… o teu sabor… o gosto da água divina caída do céu.
Sinto a tensão sumir dos meus ombros como se um véu tivesse sido levantado de repente e mesmo entre a tempestade o ar luminoso rompesse por entre nós. Separas a tua boca da minha e sorris:
“Boa tarde também para ti” digo entre gargalhadas!
Ris e respondes: “Sim o teu cabelo também fica bem assim molhado… dá-te o ar de selvagem que tão bem escondes por debaixo da pele profissional que ostentas!”
Sinto o calor que emana de ti por entre as camadas de roupa que temos os dois vestidos… ficamos assim entregues um ao outro, isolados do mundo que corre lá fora… entre o barulho da chuva grossa que cai e das ondas agrestes que batem de encontro as rochas da praia… olhos nos olhos…
A capacidade de saber aproveitar os momentos que podemos dispor é natural em nós os dois…
Estreitamos o abraço sinto a tua respiração suave e alterada no meu pescoço, arrepio-me, não pelo frio que sinto sob a roupa pesada e molhada… dizes:
“Vais directa a cascata de água quente certo? Não suportava que por uma loucura ficasses doente” … suspiro e fecho os olhos…. Sei que o tempo de doce isolamento acabou… ganho forças para me fazer regressar a realidade e respondo:
“Sim vou! Faz o mesmo ok?”
Dirigimo-nos os dois aos nossos “veículos” ligação ao mundo real… sem olhar para trás.
Isso não existe entre nós… não há arrependimentos, censuras ou exigências… apenas partilha, entrega… cumplicidade.
Retorno a casa… os primeiros tremores de frio apoderam-se de mim assim que retiro do meu corpo a ultima peça de roupa, entro na banheira a tremer de tal maneira que me batem os dentes… deixo-me ficar debaixo da cortina de água quente até a pele ficar mole e o ar do wc saturado de vapor…
Penso enquanto me observo no espelho, húmido e condensado de vapor... Pronta para mais uma semana de trabalho no mundo real!
Sorrio... As loucuras da vida são assim mesmo.... Deliciosas

11 comentários:

Salvador disse...

))

São mesmo. E eu que sou tão guloso... rsrsr

Paula disse...

Salvador,

Cuidado com a gula é um pecado capital... mas há pecados que valem a pena... concordo
(",)

M. disse...

Desejos ou vontades?

:)

Paula disse...

Então porque Rosinha? Agua a mais?
Beijinho

Paula disse...

M.
Desejos, vontades e exercicios de imaginação...
Sabem bem as vezes...

Gi disse...

És uma SENHORA!Nada que já não soubesse...

Paula disse...

Sou apenas eu amiga... com tudo o que isso possa significar...
(",)

Isabell Culen disse...

A tua chuva tem um sabor muito bom.
Só voltei a respirar quando lia a última palavra.

Paula disse...

Isabell,

A minha chuva é a de todos... é só preciso não esperar de mais nem desejar demais...
Viver é a palavra...
Beijinhos

Anónimo disse...

Há melhor forma de começar uma semana anestesiado com injectáveis de adrenalina, serotonina e noradrenalina destes?

Paula disse...

Olha fiquei arrepiada na parte do injectar anónimo, embora tenha uma tatuagem detesto agulhas.
Mas se te ajuda a passar a semana, então tive sucesso.
:)