sexta-feira, 6 de maio de 2011

Partidas da Mente

Podem achar estranho… até pode surgir na vossa cabeça a frase:”mas do que esta maluca se foi lembrar agora!” mas a verdade é que ando desde de segunda-feira passada a pensar nos tempos das vindimas que fazia na casa do meu avô paterno.
Sim eu sei que a altura das vindimas ainda vem longe… mas consigo sentir o cheiro das uvas maduras acabadas de cortar… o voz do meu avô meio alegre meio arreliado que eu e os meus primos brincávamos mais que trabalhávamos… embora se pudesse ver nos olhos e sentir nas profundezas da alma que ele se sentia feliz por nos lá ter!
As risadas misturadas com as cantigas meio inventadas meio reais… os petiscos sempre a mão de semear que originavam sempre mais dois dedos de conversa…
As lutas entre os mais novos para ver quem ia primeiro pisar as uvas… as minhas maroscas para ser sempre eu e o meu “choradinho” para ficar lá até ao fim… mesmo quando já estava roxa de frio… morta de cansaço… rouca de cantar de rir… de brincar!
O banho no fim… dentro do tanque… de mangueira… as corridas loucas quando fugia a vigilância apertada da família e desatava numa correria louca a volta do tanque… molhada… a “patanhar” tudo e todos… a querer dar “abracinhos fresquinhos”
O fim da noite… o cantar pelo meu avô dos fados… as anedotas mais ou menos picantes que saiam da boca de todos… o vinho doce acabado de sair da pipa… fresquinho que trepava com uma velocidade tal que se fosse condutor ficava inibido de conduzir J
O cair a noite… o adormecer entre o vestir de pijama e o encostar a cabeça na almofada e o acordar louco no dia seguinte porque era dia de sopas de vinho… as minhas tentativas frustradas de convencer a minha avó que se eram sopas podia ser no pequeno-almoço porque ela também punha sopas no leite… os amuos quando por mais que tentasse comia na mesma o pão barrado de manteiga salpicado de açúcar com o leite quentinho encostada ao meu avô na cadeira do quintal enquanto víamos os pássaros a saudar o dia.
As explicações sempre iguais que me dava ano após ano do que era necessário fazer para o vinho não azedar… para se conservar… o facto de eu saber que o mais provável era ser bebido como vinho doce e não sobrar nenhum para conserva…
O sentir que as coisas não mudam… que o meu avô era imortal… que os meus pais iam estar sempre iguais… fortes e do meu lado!
Hoje mais velha e menos fantasiosa… gosto de fechar os olhos por 5 minutos e saber que as coisas mudam… e que a mudança quando vem seja para bem ou para mal é sempre bem-vinda.
Que o meu avô não é imortal… que os meus pais envelheceram… mas que mesmo com isto tudo estamos sempre lá uns para os outros independentemente do que for… do que vier…
Saber mais que tudo que mesmo com as intempéries que fazem parte da nossa vida, sou e fui feliz… muito feliz e mais que isso tão amada!

“As coisas boas da vida não são aquelas que duram para sempre mas são aquelas que deixam boas recordações”

14 comentários:

Isabell Culen disse...

Parece que estava lá ctg nas vindimas! Parabéns! que bela escritora!

Um beijinho de alguém q também andou nas vindimas e que tb recordou tempos passados com o teu texto.

Paula disse...

Isabell,
Obrigada pelo elogio... se te fez sentir assim então o objectivo esta cumprido e mais que cumprido pois queria dar um "cheirinho" do que é aqueles dias maravilhoso entre uvas e pipas...
beijinhos

Nokas disse...

Transportaste-me para lá :)

Paula disse...

Sentiste o cheiro Nokas?
=)

Teresa Santos disse...

Que belas recordações!
Das vindimas da minha infância recordo, principalmente, o cheiro do mosto, um cheiro que entrava na quarto, doce, tão doce!
Beijinho.

M. disse...

Baco é um grande deus:) Mais que a coisa o pretexto para estarmos com quem nos faz bem:)

Pink Poison disse...

Tu falas nas vindimas, eu falo na panha de alfarriba e azeitona, o cheiro dos lagares... O meu avó já faleceu e eu senti-me sozinha no mundo.

Paula disse...

Teresa,
E que entranha na alma... que ainda se consegue sentir quando fechamos os olhos e recordamos.
Beijinho

Paula disse...

M.
Baco é um bacano e um folião... se não sucumbirmos ao excesso é um optimo deus para convivio e bem estar.
=)

Paula disse...

Pink,
Onde o teu avô estiver estará sempre contigo nos reconditos da mente a no coração da recordação.
Ainda tenho o meu... mas não sei por quanto tempo por isso temos de aproveitar a vida e viver ao máximo.
=)

Anónimo disse...

Viver todos os momentos com a maior intensidade possível e guardar as melhores partes no cantinho mais escondido do coração para elas não fugirem ;)

A minha infância também foi maravilhosa ***

Paula disse...

Sonhadora,
O ideal da vida é mesmo viver... com todos os bons maus e assim-a-assim momentos...
Beijinhos =)

Teresa Santos disse...

Utena,

Permites que coloque uma questão à M.(ezinha)?

Para estarmos com quem nos faz bem necesitamos de um pretexto?

Ai é?

E necessitamos dos favores de Baco?

Um copinho de água
(sim, porque a boca seca!)
um copinho de sumo
(sim, porque as vitaminas fazem falta!)

Ou...?,

Apenas saborear a companhia,
a conversa,
...?

Os favores de Baco não são necesários!

Nada como o conforto de um amigo, nada!

Beijinho Utena.

Paula disse...

Teresa,
Tu aqui tens as permissões todas...
Agora é só aguardar a resposta...
Eu concordo... desde que tenhamos a companhia de um bom amigo e uma boa conversa até posso estar a pão e água que não me importo.

Beijinho
=)