segunda-feira, 18 de julho de 2011

A dor com que me custa lidar!

Lido muito bem com a dor, seja ela física…psicológica ou emocional. Não sei se é uma virtude ou um defeito mas o que acontece é que adquiri uma capacidade de a isolar do mundo absorvendo-a apenas para mim sem deixar transparecer o que vai na alma… aliás quando tomo algum tipo de químico atenuador já o caso está muito mal parado e é motivo para se ficar assustado!
Desde de pequena é algo que consigo controlar muito bem… a física porque como Maria Rapaz que era, dia sim dia sim envolvia-me em pancadaria com os colegas e não era mariquinhas para me por a chorar (manias de criança), a psicológica e emocional no fundo penso que fui adquirindo com as mudanças na minha vida, como o facto de ter emigrado muito nova para um país totalmente diferente do meu, com costumes e raízes que me fizeram ter agora com 33 anos a mentalidade de pelo menos mais 10 anos… não me queixo! Aliás muito do que sou devo a isso e apenas tenho a agradecer!
Não lido bem com lamúrias é um facto… com aquela gente que se queixa porque lhe dói a unha do pé com a mesma intensidade com que se queixa se tem saudades de comer um gelado… mas consigo manter-me impassível a isso de uma forma mais fácil ou mais difícil pois por muito que me custe estou em continua aprendizagem para respeitar o que não controlo e o que é normal nos outros. Acreditem que é um esforço diário muitas vezes incontrolável…
Mas existe algo que não controlo em mim e que me deixa angustiada… é a dor de quem amo! É irónico ou talvez não seja mas o que faz os outros sentirem nas suas próprias dores eu sinto-as nas dores de quem gosto…
Fico em pânico… nervosa… ansiosa… chego a sentir tonturas com a ansiedade de tentar saber a cada minuto como a pessoa esta e ao mesmo tempo a controlar-me para não lhe perguntar como se sente… porque e aqui falo por mim quando me sinto menos bem a ultima coisa que quero é que me “melguem” o juízo e me lembrem que estou debilitada.
Torno-me apática com o pensamento fixo no bem-estar de quem me é próximo e sofre… e chego a tornar-me chata e repetitiva com frases como: “Estou preocupada com X” ou “Como achas que Y está?”… eu a segura de mim… a que esta em controlo de tudo é uma completa descontrolada nisto…
Mais ainda quando tenho o meu avô com dores crónicas e longe da minha “asa”… sozinho… sem ninguém que olhe por ele ou que lhe pergunte 5 vezes por minuto como se sente.
Por isso hoje pela manha e ao ver as notícias da RTP1, um pouco ausente e preocupada com as duas “fêmeas” que muito amo e que não estão no seu melhor ultimamente… a minha mãe e a minha princesa… dei por mim a ser chamada a realidade com uma entrevista onde se falava nas tentativas que estão a ser feitas para se criar fármacos que retirem as dores sempre presentes e que nos impedem de ter uma vida normal…
È difícil de imaginar para quem as dores se limitam a um ou dois dias… ou que são atenuadas sempre que se toma de 8h em 8h um analgésico o que é viver constantemente com dores onde nem os pés se consegue colocar no chão e a qualidade de vida sendo mínima apenas não se torna nula pela força de vontade que se tem…
Está na altura de se considerar essas dores como um mal da sociedade grave e em muitas vezes causador de depressões… isolamento e até suicídio. E o que mais assusta é que não é só nos idosos, muitos jovens vivem diariamente com dores que não conseguem atenuar e que são encaradas com leveza por parte dos médicos.
Talvez a notícias de hoje seja uma luz de esperança para quem sofre… esperemos que não se percam em medicamentos que trazem na bula viagens e não apenas a posologia e dediquem finalmente tempo para tratar os males que realmente estão a minar o bem-estar de quem os sofre directa ou indirectamente…
Eu agradecia e iria conseguir controlar muito melhor este meu lado psicótico se soubesse que os meus que sofrem sem eu nada puder fazer para os aliviar desse fardo tivessem finalmente um químico que não se rege pela máxima “ou morres da doença ou da cura” mas um que realmente lhes permitisse recuperar a alegria de viver.
Porque a dor mata… aos poucos e isso garanto que ninguém pode negar.

16 comentários:

N.M. disse...

A dor mata, mas a solidão também mata, e para essa maleita não existe cura, nem tratamento, eu aprendi por assim dizer a ignorar a dor, algo que faço constantemente, por mim mesmo, pela minha saúde, por não acreditar em químicos, quantas e quantas receitas não vão parar ao caixote do lixo porque me recuso a encher o corpo de químicos, prefiro procurar algo mais natural, algo que seja igual a mim próprio.

Paula disse...

Nuno,

Sim a solidão mata... sim não existe cura... essa só esta no coração de quem pensa que pode impedir esse flagelo porque se dá sem esperar nada em troca!
E os quimicos fazem falta mas estão a ser usados infelizmente em demasia!

Beijo

Anónimo disse...

É verdade… é um mal da sociedade não só dos idosos, mas também de muitos jovens. Seria maravilhoso podermos retirar as dores de quem sofre… em especial aqueles que amamos, claro, e perante os quais nos sentimos impotentes quando a esta questão diz respeito… é natural que te sintas nervosa, ansiosa, até triste mesmo, porque queres ajudar...esperemos que de facto esse medicamente que falas possa ser uma realidade e assim contribuir para o bem-estar de muitos nos nossos idosos e jovens!
Obrigada por mais um alerta e me trazeres à terra com problemas verdadeiros!! Ajudas-me a relativizar o que eu por vezes e erradamente, considero problemas.
Beijos e mais uma vez parabéns pelo teu texto,
OlgaM

Paula disse...

Olga,

Eu é que agradeço por me leres e perderes uns minutos do teu dia por aqui...
Sim ajudava imenso ter a capacidade de canalizar as dores de quem amamos para nós... pelo menos sabia que eles estavam bem!
E sim muitas vezes os nossos problemas são minimos em relação a alguns flagelos que existem por ai.

Beijinhos e obrigada

Nokas disse...

Ao contrário de ti, sou muito sensível à dor...quer física quer psicológica. Mas a dor que mais custa suportar, é sem dúvida aquela que atinge os que amamos...e essa mata lentamente.

Paula disse...

Nokas,

Sim a que me assusta mais é essa e o saberes que nada podes fazer.

Anabela Prates disse...

Querida Utena,

identifiquei-me bastante com o teu primeiro parágrafo, mas por um lado percebo que o ser humano só cresce na dor.

Saberíamos o verdadeiro significado de sermos felizes se nunca tivessemos experenciado o que é a tristeza?

Não me interpretes mal, mas a maioria de nós só percebe a magnitude do que é viver quando a dor lhe trespassa o corpo ou a alma. Muita gente acorda do marasmo em que vive...uma vez alguém que eu considero sábio disse-me "o universo é muito económico, por isso certas pessoas nos abandonam mais depressa do que era esperado, muitas delas desiistiram de viver e só existe uma solução deixar aquele corpo partir para que a alma tenha oportunidade de voltar noutra vida que lhe permita recuperar o tempo que perdeu na anterior".

Nunca mais me esquecerei destas palavras!

Beijo

Eva Gonçalves disse...

A medicina está sempre em evolução.. e enquanto penso que não há motivo nenhum para que tenhamos de suportar dores físicas, se elas puderem ser atenuadas por medicação, já não penso o mesmo das dores emocionais, que muitas pessoas tentam anestesiar com medicação, sem se aperceber que é importante passarmos por elas, como por ex um luto, em que é normal e desejável ficarmos trsites em vez de tomarmos anti-depressivos... Espero que as tuas 2 fêmeas melhorem para que aliviem as dores das 3! :) beijo

Unknown disse...

não tenho a certeza de que a generalidade dos médicos encare a dor com leveza. mas como os humanos são todos diferentes, uns poderão encará-la com mais, outros com menos... podem, no geral, encarar a dor com mais naturalidade do que a maioria das pessoas, mas como seria possível não o fazerem, se têm de conviver com o sofrimento diariamente?
há hoje na maioria dos hospitais consultas de dor, onde doentes mais resistentes aos tratamentos convencionais podem ser enviados para melhor seguimento. isso diminui o sofrimento de todos...

Paula disse...

Clara,

Sim eu sei e concordo contigo... só sabemos o bom quando temos o mau... e eu sinto o mau só não o demonstro... tento não "infectar" quem esta do meu lado com esses estados tristes que nos deixam sem saber quem somos.
Belas e sábias palavras... vou guardar também no meu coração!

Beijinhos

Paula disse...

Eva,

Eu sinto que tudo o que é de mais é moléstia, como crianças a tomarem calmante porque são hiperactivos.
Sei que a medicina é necessária e que nos ajuda a ultrapassar estados que seriam demasiado dolorosos... o problema é que se acham donos da verdade e isso assusta. Quando os homens se fazem de Deus.

Obrigada pelas melhoras.
Beijinho

Paula disse...

António,

Garanto-te com conhecimento de causa que esses tratamentos raramente funcionam.
O meu avô foi consultado nessas chamadas consultas da dor e saiu de lá pior que entrou.
O médico deve ter vocação e não ir porque a clínica privada dá dinheiro!
E como disse acima são crianças a brincar a Deuses muitos deles sem um pingo de atenção por quem sofre!
Snobes no seu poleiro de senhores da verdade muitas vezes ofendendo colegas cuja arte já deu provas durante séculos.
Existe sempre excepções a regra mas...

Beijinho

CF disse...

minha querida
esta é uma temática á qual sou sensível...cada vez mais preconiza-se que as dores devem ser atenuadas ou extinguidas...uma pessoa não deve ter dor e se alguém se queixa de dor devemos saber a sua origem, pois como bem dizes pode não ser fisica, mas psicológica. Existem formas faramcológicas e não farmacológicas de combater a dor, embora as de origem psiquica sejam mais dificeis até porque evoluem para sofrimento...o qual é mais dificil de avaliar.
Os profissionais de saúde jamais devem ignorar uma queixa de dor...até porque cada pessoa tem o seu limiar próprio. Além disso a dor é um dos 5 sinais vitais...como tal, se não extinta pode levar à morte, como referes.
Acredito nos fármacos e graças a eles a qualidade de vida das pessoas têm melhorado, mas tb acredito nas potencialidades de outras medidas não medicamentosas que melhoram, em muito, a componente psicológica...inclusive aumentam o limiar de dor de um individuo tornando-o mais capaz de a suportar
bjs grandes

Paula disse...

CF,

Sem dúvida que sim porque a dor constante leva a saturação... a deixar-mos de ter força para levar a vida...
Angustia-me ver isso na cara do meu avô embora muitas vezes ele tente disfarçar.

Beijinho

Pink Poison disse...

Como diz a Clara, o ser humano aprende na dor.
Mas eu digo que é nas situações limite...

Paula disse...

Pink,

Existem sempre situações que não devem ser ultrapassadas.

Beijinho