quinta-feira, 28 de julho de 2011

Regresso

(outro dos meus contos)
Bateste a porta com a força que te caracteriza sempre que sentes que algo está prestes a fugir-te por entre os dedos…
- Vai embora – murmuro para comigo mesma – não tornes as coisas mais difíceis do que já estão.
- Abre – gritas do outro lado da porta – Abre meu amor sei que estás aí… abre – soluças – por favor vamos conversar…
Arrasto-me até a porta, exausta do que sinto, sabendo que se te olho e te toco me vou afundar nas pretas ondas do teu cabelo… a tua presença mesmo por detrás da porta fechada deixa-me a pele sedenta do teu toque… escancaro a porta com força…
- Que queres? Que achas que ainda ficou por dizer? Não dá mais chega… digo envolta numa capa de indiferença que a cada minuto que passa mais esburacada fica…
Elevas os teus olhos para mim… duas fontes de luz por entre o negrume das pestanas espessas… a dor que vejo através delas acelera-me o coração e despedaça-me a alma.
- Ama-me apenas – respondes no teu tom de voz rouco e baixo…
O meu corpo reage pela minha cabeça e quando dou por mim estou nos teus braços… a tua boca na minha mostra-me o sentimento que tem alguém que se esta a afogar e precisa desesperadamente de ar para sobreviver…
- Meu Deus, como vou conseguir viver sem ti – penso num rasgo de lucidez que me deixa sem força momentaneamente.
Pegas-me ao colo enquanto fechas a porta com a violência característica de quem sabe ser já nada o que pode fazer para evitar o inevitável.
- Ama-me apenas… sê minha hoje como se o amanha viesse só daqui a muito tempo…
Olho para ti e tento falar, colas os teus lábios aos meus e dizes
- Nada… não digas nada sente apenas.
Fecho os olhos sentindo-me já a perder no meio dos teus braços, o teu toque deixando no meu corpo traços de fogo… marcando a minha alma a ferro… a tua boca na minha os teus lábios traçando pequenos pontos de dormência onde a minha pele reconhece a tua língua como propriedade exclusiva e privada…
Loucura meu Deus quanta loucura… as minhas lágrimas misturadas com o nosso suor… os corpos na batalha onde nenhum sairá vencido…onde no fim os dois sairemos mutilados e sós…
Onde foi que erramos neste amor louco que todos diziam ser inevitavelmente para a vida?
A tua presença inunda os meus últimos pensamentos e resigno-me a deixar o meu corpo assumir o que a minha mente nega, que sou tua… que serei sempre tua…
-Amo-te – sussurras no meu ouvido… sei que as coisas são difíceis para nós mas não percas a esperança em nós…
Viro-te de costas e coloco o meu corpo sobre o teu… digo enquanto te beijo…
-Estou cansada de lutar sozinha, de ter de te mostrar o meu amor todos os dias… de lutar contra a inconstância dos teus sentimentos…
Abraças-me e dizes
- Eu mudo…
-É tarde… ama-me e deixa-me na pele a tua presença… não fales – digo entre soluços… ama-me apenas…
Acordo mais tarde sozinha na cama revolta… ao meu lado uma caixa e um bilhete…
“Não consigo ver-te partir… perdi-te mas nunca mais nenhuma mulher ocupa aquilo que é teu… espero por ti…”
Abro a caixa e vejo um vestido preto de cetim… abraço-me a ele, coloco na caixa, visto-me e desço para o táxi que me aguarda…

Limpo as lágrimas enquanto olho para o velho quarto… as memorias estão tão frescas como estavam marcadas há 5 anos atrás… a pele sente-te como se estivesses ali no meu lado!
Desato a fita vermelha de cetim da caixa que não abri durante o tempo que estive ausente da minha própria vida… dispo-me lentamente enquanto absorvo as últimas lembranças da nossa separação…
Retiro o vestido e envolvo as minhas pernas nele, o deslizar do cetim pela minha pele nua desperta em mim a chama á muito apagada da minha alma… ajusto o corpete enquanto penso que sempre soubeste ao certo o que melhor me fica…
Respiro fundo e saio da antiga masmorra dos meus pensamentos…
Dirijo-me ao teu refúgio na encosta da praia… sem saber se estarias por lá mas no entanto tendo a certeza que te vou encontrar…
A tua silhueta ao longe faz-me sentir sem força nas pernas, seguro a saia do vestido com força sinto as unhas a atravessar o suave tecido... forço-me a seguir em frente…
Sentiste-me antes de falar…ergueste devagar… os olhos profundos… a luz da dor infiltrada por meio das pestanas, o rosto mais marcado… os lábios carnudos…
- Tinha-me esquecido de como és alto – digo enquanto sorriso para ti – voltei… ainda venho a tempo?
Abres os braços… aconchego-me entre eles e suspiro…
Afagas-me o cabelo enquanto sussurras…
- Ama-me apenas e não me deixes nunca mais meu amor!
Abraço-te com força e enquanto me coloco em pontas dos pés para encostar os meus lábios aos teus digo:
- Nunca mais meu amor…
Beijas-me com a característica força de quem sabe que finalmente tem nos braços, aquela que de eles nunca mais irá sair…
Sorrio enquanto penso:
- Casa! Cheguei finalmente a casa…

10 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito do texto, está muito muito bem escrito....transporta-nos para dentro da história... faz-me sorrir e lembrar que há histórias que têm final feliz!
Beijinhos grandes,
E obrigada pelo texto :-)
Já dou por mim à espera do texto diário!! Isto de ler bons textos vicia, lol
OlgaM

N.M. disse...

"Onde estiveres, eu estou...onde tu fores, eu vou...para onde olhares, eu corro; se me faltares, eu morro...és parte de mim..."

Paula disse...

Olga,

Obrigada pela presença constante... um dos contos tinha de ter final feliz senão ainda me internam por depressão =)

Beijinhos minha viciada

Paula disse...

Nuno,

Adoro esta musica de paixão...
Ouço-a muitas vezes

Beijo

Pink Poison disse...

Lindo, como sempre, como tudo o que nos dás o prazer de ler!!! Beijoca

João Paulo (Sharky) disse...

Gostei, é profundo. É bom conhecer virtualmente alguém que partilha a escrita como eu, através de textos/contos ;)

Lyn disse...

Ouvir essa música enquanto se l~e o texto, dá o ambiente perfeito


**

Paula disse...

Pink,

Obrigada =)
Beijinho

Paula disse...

Sharky JP,

De vez em quando lá envedro pelas malhas dos contos...
Também gosto bastante dos teus.

Paula disse...

Lyn,

Obrigada,
Acho esta música deliciosa

Volta sempre