sábado, 1 de outubro de 2011

O sentimento que não consigo sentir


Esta tarde, quando saí por 5 minutos aqui da loja para apanhar um pouco de ar, (estou desejosa que chegue o frio), dei por mim a ouvir sem conseguir evitar uma conversa entre mãe e filha.
Dizia a filha com os olhos abertos e rasos de lágrimas:
  • Odeio-te Mãe!
Confesso que não ouvi a resposta da mãe, porque me senti tão triste com aquela frase, principalmente entre duas mulheres que deveriam defender-se acima de tudo, que entrei no centro.
Acabei a pensar no sentimento Ódio e a conclusão a que chego é que nunca fui capaz de odiar ninguém… sou é verdade capaz de ter ataques monumentais de raiva… daqueles que seriam dignos da Medusa… (estou neste momento a trabalhar para que nesses ataques me nasçam serpentes no cabelo), mas brincadeira a parte sempre considerei que mesmo sentindo raiva, desprezo… nunca senti ódio.
O sentimento por si só desgasta…mirra… torna-nos estéreis de qualquer sensação boa e de conseguir não só praticar mas sentir e só por si isso deixa-me assustada.
Existe quem odeia pelo mais simples motivo… já eu fui alvo de ódio e a dor que se sente quando somos atingidas por tal infame sentimento é tão grande para quem é alvo e para quem o sente que me deixa atónita por conseguir ser expresso… trabalhado e direccionado.
E correndo o risco de ter vozes a levantarem-se contra mim, o sentimento ódio é tão próximo ao do amor como a grafite é ao diamante… a fórmula é similar e apenas tempo os separa… Existe quem ama mas diz que odeia… quem odeie e pensa que ama… os dois sentimentos são tão fortes e despendemos tanto tempo a alimenta-los que pouco se diferem na sensação que causam.
Mas enquanto o amor preenche… ilumina… alegra e nos deixa vivos, o ódio esvazia… baça…. entristece e mata qualquer emoção que possamos sentir.
Não consigo sentir… e acreditem que até já tentei mas senti-me tão morta por dentro que não o consegui suportar por muito tempo, pois por pior que nos façam sentir ou passar ninguém é digno de nos fazer sentir algo que nos murcha e nos anula.
E da mesma forma acredito que quem ama e depois diz que odeia, nunca verdadeiramente amou, pois quem tem a capacidade de sentir amor, não pode sentir ódio… sente desprezo… raiva… mas não ódio.
Se o sente não ama e se ama não o sente.
Agora o que eu acho é que as pessoas hoje em dia se esqueceram da força que têm uma palavra… do poder que emana dela… só para terem uma ideia as antigas religiões não escreviam conhecimentos nem “magias”, eram passadas de boca em boca, de preceptor a aluno porque sabiam o poder que elas tinham e que o registar as embutia ainda mais dele e eram cuidadosos… cautelosos.
Hoje não se respeita nada, nem ninguém e o que senti quando ouvi aquela criança, que pouco sabe da vida dizer a sua mãe, fez-me sentir suja e agoniada… porque a força daquela palavra criou uma dor naquela mãe que eu senti na alma.

“Ninguem nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, pela sua origem ou ainda pela sua religião. Para odiar, as pessoas precisam de aprender e, se podem aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”
Nelson Mandela

Namasté

16 comentários:

CF disse...

Deixei comentário no post anterior. Não sei se ficou..isto nos blogger anda esquisito outra vez!
Quanto ao texto, por vezes existe uma distância entre as palavras proferidas e o sentir...a maioria das vezes acredito que assim seja! Atiram-se pela boca palavras que não sentimos, embora "ódio" seja algo muito pesado... contudo há quem diga que só odeia, quem ama! Assim, talvez ainda não tenha amado...lol
bjs

Moi disse...

Concordo contigo a fina distância entre sentimentos tão antagónicos é tão débil, tão frágil... mas quem verdadeiramente amou, nunca consegue odiar, porque haverá sempre um motivo que leva a esse sentimento não cresça dentro da gente.

Adorei a frase final de Mandela.

Beijos

Paula disse...

CF,

Ficou pois e toda gira na foto nova...
Sim pensemos que a criança era nova demais e não sabia o que dizia...
Pensemos que ainda bem que não era minha filha senão nem sei...
Beijo

Paula disse...

Moi,

Mandela tinha a capacidade de falar bonito e com sentido, pena que estivesse tão mal rodeado.

=)
Beijo

Anónimo disse...

Partilho da tua opinião acerca do sentimento de ódio. Nos meus escritos tento nunca usar essa palavra porque é forte demais e acredito que a maioria das pessoas que a usam, fazem-no de forma inconsciente.

Substituo sempre esse sentimento pelo sentimento do "desprezo" porque odiar, na sua forma mais literal, acarreta um peso a quem odeia e poucas vezes ao objecto do ódio, que nem sempre sabe que é o alvo desse sentimento.

Anónimo disse...

Alguns pontinhos:

Tem cuidado com isso dos cabelos de serpente tipo Medusa. Não vá aparecer por aí algum Perseus...

Muita gente diz as coisas assim da boca para fora quando tem a cabeça quente. Não acredito que essa filha odeie de facto a sua mãe. Vai na volta agora já deve estar bem arrependida daquilo que disse à sua progenitora.

O ódio não é o sentimento contrário do amor, ao contrário do que muita gente pensa. Se há ódio é porque existe amor. O contrário do amor é a indiferença.

O Nelson Mandela é um bandido. Graças a ele começou o saque e a matança dos brancos na África do Sul.

Beijinhos.

Paula disse...

Martini,

Tal como dizes e tenho de concordar contigo o ódio apenas corrompe quem o sente...
O desprezo esse sim é sentido e direccionado de forma até a nos proteger

Paula disse...

Fire:

Em resposta aos teus pontinhos:

Perseus apenas ganhou porque teve ajuda, não fosse o escudo polido como espelho de Atena, o capacete de Hades para se tornar invisivel e as sandálias de Hermes a história seria outra.
Além disso a Medusa tornou-se assim por causa de ciumes sbias? Dormiu com o Poseidon no templo de Atena e ela enfurecida transformou o cabelo dela em serpentes não lhe permitindo observar homem nenhum ou mulher sem o transformar em pedra.
No fundo se vires temos uma vitima no meio da historia distingues quem?
A indiferença gera desprezo... quem ama não odeia e se odeia não ama... os sentimentos são separados por uma fina mas bem resistente linha. Não posso concordar contigo nesse caso.
E por fim Mandela, não é o diabo ou o extreminador dos brancos na Africa do Sul, aliás o ódio esse sim irracional sempre fez parte daquele país fosse ele de brancos ou pretos.
Quem rodeou Mandela fez com que ideias fossem deturpadas.
Não culpes as ideias, nem o homem apenas os seguidores como em tantos lideres é isso que acontece.

Beijinhos

Anónimo disse...

Também nunca senti ódio por ninguém. É de facto um sentimeto poderoso tal como o amor. Há quem diga que são o reverso da mesma moeda. E dizer a alguém que a odiamos deve ser fortíssimo.. nem imagino o que aquela mãe sentiu ao ouvir isso. é certo que pode ter sido da boca para fora,mas ainda assim magoa. Sabes, não creio que as pessoas se apercebem da energia que as palavras ditas têm...
Mas tens razão hoje não se respeita nada nem niguém. É altura de voltarmos a ensinar ás nossas crianças alguns valores e principios, hoje perdidos, algures...
Beijos grandees,
OlgaM

M. disse...

O ódio é filho de muita coisa...Nem sempre se sente o que se diz...(o contrário também é válido)...

Vejo no ódio um dos lados da nossa pequenez:(

Paula disse...

Olga,

Sim verdade que muitas vezes o mau comportamento dos filhos são apenas o espelho dos pais...
Mas ainda vamos a tempo de mudar mentalidades... espero que sim pelo menos
=)

Paula disse...

M.

Nada vejo no ódio a não ser destruição de quem o sente.

Eva Gonçalves disse...

Sinto o mesmo que tu. Não odeio nem nunca odiei ninguém... mas é muitas vezes uma questão de terminologia sabes... as pessoas usam essa palavra quando querem exprimir raiva... eventualmente mais tarde, até percebem o erro... :) Beijo

Paula disse...

Eva,

Penso como tu ou pelo menos desejo que assim o seja...

Beijo

Anónimo disse...

Utena,

Eu conheço a história da Medusa... ainda não há muito tempo vi aquele filme qualquer coisa Titãs... São coisas que nunca aconteceram. E como querias que o Perseus ganhasse se não tivesse ajuda? A Medusa não era propriamente pêra doce... e os deuses pagãos são mesmo cruéis, não sei como é que há quem acredite neles. :P

Em relação ao binómio ódio/amor, eu mantenho-me na minha. Não te vou dar razão. :P

Acredites ou não, a melhor altura da África do Sul foi enquanto o Apartheid durou. O ódio racial continua lá bem presente mesmo nos dias de hoje, a única diferença é que o ódio racial tem agora predominantemente outro sentido e os média não fazem tanto eco disso como faria se as vítimas fossem de raça negra.

Beijinhos.

Paula disse...

Fire,

Pelo menos a Medusa enfrentou o "grande corajoso Perseus" de mãos limpas.
Mostra bem o herói da historia =P

E quanto ao Apartheid não concordo nem aceito atitudes radicalistas que existiram e existem em África do Sul.
Põe os olhos na Namíbia a coexistência é óptima e o país um paraíso
Beijo