quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Voltar aos tempos de escola? Passo...

Engraçado como mudamos com o passar dos anos… como conseguimos controlar certos medos ou inseguranças que nos faz ser o que somos a medida que vamos “crescendo”…
Eu tenho alturas da minha vida que me torno saudosista, presa ao passado… tempos onde recordo o meu tempo de escola… as minhas inseguranças… os meus traumas.
Hoje enquanto estava a arranjar-me para sair e estava a pentear o cabelo tive um desses flashes engraçados.
Uma coisa que eu nunca compreendi é a tendência que as pessoas têm de ter saudades dos tempos de escola, a sério nunca entendi. Eu sempre detestei essa altura não sinto saudades nenhumas desses tempos “dourados” que todos suspiram. Sinto saudades das aulas… do conhecimento novo todos os dias… da troca de ideias com os professores… do que aprendia extra-escola quando me sentava com o meu prof de religião e moral e trocávamos ideias.
Mas da escola, dos namoros, dos amigos desse tempo não tenho saudades nenhumas.
A Utena de agora se estivesse no tempo da Utena do passado, talvez se tivesse divertido… ou pelo menos talvez tivesse visto as coisas de forma diferente… mas a Utena do passado era alguém muito diferente.
Não gostava de mim naquele tempo, era alta demais em relação aos meus colegas, desenvolvida fisicamente demais… com óculos (estão a ver as alcunhas certo?) e pior que isso tinha cabelo encaracolado e ruivo… digamos que era a freek da zona.
Nunca usava mochila, não tinha as caras dos actores colada nos cadernos, não saia a correr quando tocava… não me maquilhava… não queria saber de moda. E só não levei mais vezes na tromba porque sempre tive uma força descomunal e quando elas ou eles vinham já estavam a cair com uma lamparina no meio dos olhos.
Não havia dia que não houvesse molho, agora que me ponho a recordar até quando regressei a Portugal o meu primeiro dia de escola foi marcado com uma bofetada num rapaz que depois se tornou um simpático amigo.
Os tempos de escola e visto a frio de longe são tempos conturbados… problemáticos mesmo para aqueles que são os populares… não é fácil ascender as expectativas da roupa… do material… das notas… das festas… do namoro.
Tudo nesse tempo está envolto em aparências e se não houver em casa alguém que nos olha com olhos de ver e vê que algo está errado o que pode acontecer é como se vê hoje em dia… crianças que desistem e se matam por banalidades.
É verdade que esses tempos marcam um pouco a nossa forma de ser, mas mais verdade é que não nos tornam no que somos.
A Utena de agora está de bem com a sua personalidade, tornou-se segura… retirou os óculos e substituiu-os por lentes pondo a descoberto uma das suas melhores armas que são os olhos… mas mais que isso aprendeu a olhar o espelho pela manhã e a gostar de cada bocadinho do que vê. Da altura… ao corpo… (eu sou literalmente Amazona =P)… dos lábios ao vermelho do cabelo… até ao efeito carneiro quando os lava e não os seca.
Mas não foi de um dia para o outro levou tempo.
E foi porque em casa tinha alguém que não me mandava calar porque estava cansada/o ou a ver o telejornal… mas porque tinha alguém que desligava o aparelho e me ouvia com atenção e me fazia ver que as coisas não são cor-de-rosa nem pretas… são multicolores.
Confesso que o meu lado “cabra” até gostaria de ir a uma reunião de antigos colegas e ver aqueles que lutaram para me fazerem a vida negra lidarem comigo agora… ia ser giro.
Mas depois o lado MULHER que me tornei apenas sorri e sabe que não vale a pena, pois na vida como na morte somos o que somos por causa dos pequenos acontecimentos que vamos vivendo.
A única coisa que me assusta mesmo não sendo eu mãe… nem catequista como subentendeu um anónimo de estimação que por aqui passa… é a falta de apoio que têm estas crianças de agora.
Não existe em casa… nem na escola… nem em lado nenhum. A geração rasca é o que chamaram a minha… mas bem ou mal sobrevivemos.
E esta? Sobreviverá? Com tanta falta de contacto pessoal onde o que conta é a marca que veste ou a quantidade de líquido que ingerem?
Onde as personalidades são palavras caras que pouco ou nada servem?
Eu pelo menos tento fazer a minha parte… quando posso e quando me deixam mas mesmo sendo um optimista de natureza a verdade é que vejo as coisas muito negras para os miúdos.
Namasté

18 comentários:

Anónimo disse...

É verdade, crescemos com as nossas experiências e o que não nos mata torna-nos mais forte.
Ao contrário de muitas pessoas que conheço, sempre saudosistas dos tempos de escola secundária, não voltaria atrás, não tenho saudades desses tempos, talvez um pouco do tempo de escola primária, onde a inocência própria da idade impedia de encarar determinadas realidades e responsabilidades dos adultos e tudo era simplesmente bonito e simples.
Apesar de tudo, tenho os melhores pais do mundo, que sempre souberam dizer o não na altura certa, mas sempre com amor! Souberam incutir-me valores e princípios morais. Porque a educação começa em casa, com os pais a ensinarem e a darem o exemplo, formando futuros adultos que por sua vez deveriam fazer o mesmo. Talvez ainda se vá a tempo de inverter a tendência dos dias de hoje... espero que sim!
Beijos grandes,
OlgaM

Paula disse...

Olga,

O primeiro passo já existe que ter a consciência que algo está mal...

Beijo

M. disse...

lol E eu que não consigo sair de lá...

Há fases e há memórias...Tu tens todo um futuro;)

Nokas disse...

Eu às vezes sinto falta dos tempos de escola...não tinha grandes responsabilidades e tinha tempo para mim :)

CF disse...

Algo do que descreves tem que ver com bullying psicológico e até fisico...podendo levar a depressões profundas e marcas para o resto da vida, essencialmente de cariz psicológico..baixa auto-estima and so on...para sair desse circulo há que contar com muita força interior e uma ajudinha de quem gosta da pessoa...isto para além dos responsáveis da escola tb estarem atentos à gravidade da situação. Pertinente este texto e é uma realidade que muitas vezes passa despercebida ouentão não lhe é dada o devido valor.
Bjs

Coisas de Feltro disse...

Eu às vezes também penso assim: os putos não estão a crescer como deveria ser. Mas depois dembro-me do meu tempo: lembro-me de ter 12 anos e colegas bi-repetentes e q bebiam cerveja! Putos criados pelos avós cujo pai andava por aí e a mãe a trabalhar. Que já tinham a chave de casa pois tinham que se desenrrascar sozinhos. E lembro-me dos outros, daqueles sem história, tipo eu, sem grande coisa para contar, dentro dos parâmetros considerados "normais". E seguiram todos o seu caminho. Uns melhores, outros piores, no fundo e tal como para aí vemos agora, haverá sempre registos diferentes, mas no fim o ser humano tem um dom natural de prosseguir a sua jornada e este quintal à beira mar plantado será sempre a mesma coisa... (eu não disse é que seria Boa coisa) Bjs Utena :)

Paula disse...

M.

Não consegues sair?
E porque lá fazes falta...

Paula disse...

Nokas,

Essa parte nunca a passei... sempre carreguei o mundo nas costas.

Paula disse...

CF,

Eu fui das que tive sorte... sai do circulo com ajuda e tornei-me no que sou.
Temos tantos problemas que se perdem tempo e nestes ninguém investe.

Beijos

Paula disse...

Coisas de Feltro,

Mesmo se mantendo igual somos nós que plantamos este quintal e esta na hora de mudar...

Beijos

Anónimo disse...

Utena,

Vivemos num mundo de prioridades invertidas.

Tempo e (não esqueças) sabedoria para orientar, é coisa que não existe.
Os pais limitam-se (há excepções, atenção, poucas mas há) a ir à escola dar uns tabefes no professor ou no colega que "maltratou" o menino(a) e está o assunto arrumado.
Orientar?
Conversar?
Ouvir, que é das coisas mais importantes?

Não sei qual vai ser o resultado desta bela "educação", mas não auguro nada de bom a estes miúdos.

Beijinho.

Unknown disse...

A vida dá voltas e voltas, ruivinha...

Olha o meu caso: depois de terminado a licenciatura disse para mim mesmo que já não voltaria a estudar... e estive seis meses no Centro de Formação Profissional de Alverca a tirar um curso profissional. Lembro-me de sonhar com as paredes do centro, com os putos que por lá andavam, quase tudo escória, e aquele ambiente mesmo à Morangos com Açúcar... Livrei-me daquilo e disse "agora é que é"... mas não! Estou agora num curso técnico e a enfrentar aquele que é bem capaz de ser o meu maior desafio enquanto estudante, dado que se trata duma área que não tem nada a ver com a minha...

Aprendi que é mesmo verdade que não podemos dizer que desta água jamais beberemos.

Em relação à geração à rasca, que é a geração actual, plenamente de acordo. A humanidade caminha para a ruína...

Beijinhos.

Paula disse...

Anónimo/a,

Antes de mais obrigada pela passagem...
Sim verdade que as coisas estão mal mas tenho fé que ainda vamos a tempo...

Beijo

Paula disse...

Fire,

Não é dos estudos que não tenho saudades mas do ambiente.
A ti só posso dizer que sinto admiração pelo esforço porque é um esforço mas que vais ganhar.

Beijinho

Anónimo disse...

Tal como tu também não recordo com saudade os tempos de escola na generalidade, mas sei que gostei muito do 8º, 9º, 10º e 11º ano, porque ainda não adivinhavam escolhas nem mudanças drásticas de vida.

Mas detestei os tempos de faculdade pela pobreza mental das pessoas que conheci na generalidade. Foi uma grande desilusão. Eu também devo pertencer a essa geração apelidada de rasca, mas se fomos rascas, que dizer destes que estão agora nos 18 anos?! Nem quero imaginar... :)

Paula disse...

Martini,

Penso que na realidade fomos uma geração de desenrascados e não o contrário...
Esta é a geração dos indignados....
O que quer que isso queira dizer.

Beijinho

Catarina disse...

Eu tenho saudades de todos os meus períodos escolares :p No liceu era a esquisita do grupo! Além de vegan era "ecochata"...

Tive momentos de reclusão e isolamento que me fizeram bem... Tenho amigos que percorreram comigo desde o 5ºano até ao fim da licenciatura (duas amigas!)...

Tive bons e maus momentos, mas como me eduquei a dar preferência aos bons, recordo com saudades todos os períodos escolares...

Namasté :) (o meu terapeuta, que me fura toda na acupunctura também utiliza essa expressão às vezes :p)

Paula disse...

Catarina,

Imagino o que passaste e sou como tu guardo as boas recordações.
Mas no global não sinto saudades acredita.

Namasté