terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pegadas na areia...

Engraçado como as vezes certos estados mais melancólicos nos lembram episódios passados, que muitas vezes ficam guardados em papel de seda na nossa memória. Prontos para serem desembrulhados sem que nos apercebamos disso.
Invadem a nossa mente com uma capacidade de posse surpreendente conseguindo deixar-nos sem fôlego momentaneamente.
Esta manha passei por um desses episódios, a caminho da loja… chovia mas aquela chuva suave sem a capacidade de alagar meia Lisboa como acontece todas as vezes que ela cai e lembrei-me do meu tempo de menina.
Adorava andar na praia ao fim da tarde, marcando com os pés descalços a areia molhada e fria, pelo vai e vem das ondas, ou mesmo pelo cair das lágrimas do céu (xi agora estive bem), e esse prazer perdura ainda nos tempos de hoje que já sou uma moçoila na casa dos 30 e caminho dos 33 (calma ainda falta algum tempo para os 40).
Na altura em que era mais miúda o prazer era simplesmente porque gostava de ver o mar apagar as marcas dos meus pés… de os refazer…de desaparecerem e de os fazer outra vez. Hoje mais velha e definitivamente bem mais madura, também outra coisa não seria de esperar, penso nisso bastante metaforicamente. Está certo continuo a gostar de ver o mar a fazer desaparecer a minha marca… acho o efeito hipnótico mas já não é só isso.
Nesta sociedade global que se transformou o mundo, as pessoas deixaram de ter identidade e de lutar por essa mesma identidade, se não vejamos… cada vez mais vemos mulheres a querer ter a boca de Fulana ou o nariz de Sicrana.
E não são só as mulheres os homens são iguais, cada vez mais nos cruzamos com híbridos mal amanhados de personalidades que nada tem mais de especial que serem públicas ou terem sucesso e dinheiro.
As crianças deixaram de saber brincar, os adultos de saberem conviver e os velhos de serem velhos… Como se isso fosse assim tão assustador.
Assustador para mim é as crianças não saberem o que é sujar os pés na terra, chegar a casa esfoladas porque subiram a uma árvore para roubar fruta… ou os adultos que se sentam em frente a uma televisão, vegetais de sentimentos que deixam a vida passar por eles… sem se deixarem tocar por ela. Sem a aproveitarem.
E depois temos os velhos que infelizmente são desviados desta sociedade de plástico, tendenciosamente perfeita na sua mediocridade, onde ser velho é algo de impuro e querem deixar de o ser sujeitando-se ao ridículo. São ofendidos, gozados e mal tratados ao invés de idolatrados pelo que sabem e viveram.
Não idolatrados são estes ídolos falsos, petulantes na sua maneira de ser… seguidos cegamente por esta humanidade andróide tão sedenta de atenção de se sentirem humanos que não medem nem palavras nem consequências e muito menos os actos.
Passam por esta terra, tão fantasticamente perfeita como se de passos na areia se tratasse… tão anónimos que após a chegada do mar… esse organismo pulsante de vida… órgão vivo da antiga capacidade humana…desaparecem ser deixar rasto do que são e do que fizeram cá.
Continuo a querer pensar como em criança, que as minhas marcas eram levadas e absorvidas pelo mar porque ele se sentia só e me queria como sua companhia.
Pode ser infantil mas é tão mais sentido que aquilo que vejo no que é hoje esta humanidade consumista e tão pobre de sentimentos.
Por isso perdoem-me os híbridos, os imitadores… porque vou continuar a caminhar… na praia… na areia molhada… deixando os meus passos marcados. Para que pelos o mar quando os absorver saiba que na realidade todos nós em comum temos três fases:
O nascer, o viver e o morrer… e que pelos menos de vez em quando ainda vai aparecendo alguém fiel a si mesmo, honesto com o que é que marca o tempo na realidade perfeita… desta imperfeição que é a vida

18 comentários:

M. disse...

Maturidade é o que exala do teu post...

Personalidade é o que menos há nas pessoas. Hoje somos o que achamos que os outros querem que sejamos...(ufa). Vazios.

Hoje há crianças cansadas...Como podem? Crianças que dizem: não tenho nada para fazer...Assusta!!

Nem o mar apagará as tua pegadas...

Paula disse...

Infelizmente vivemos numa época de realidade virtual que é o que exala da personalidade hoje em dia.
As crianças estão velhas demais para a idade é o que eu sinto.
Assusta e arrepia...

Anónimo disse...

Não percebi nada deste texto...
Nascer, viver... morrer, obviamente. Não sei onde queres chegar?
Porra moçoila não há uma restea de esperança na tua mensagem.Não acredito que chegaste ao fim da linha e às vezes pareces disparar em todas as direcções.
Não acredito, não pode ser que uma criatura com vários amigos de 4 patas possa ter e alimentar devaneios tão cinzentos.
Provavelmente é da luz do Outono!

Logos e Praxis

Paula disse...

Anónimo tenho pena que não te tenhas identificado, de facto não entendeste o que quis dizer. Não se trata de um texto a disparar em todas as direcções é apenas uma reflexão melancolica daquilo que se tornou a nossa sociedade.
Os meus amigos de 4 patas conheçem a alma da dona sabem com funciono...
Tira os óculos cor de rosa a vida é na maior parte cinzenta.... mas a luz de Outono é dourada.
Obrigada pelos comentários de qualquer maneira.

Gi disse...

Utena és tão linda!!!
Olha eu,ao contrário da vida,sou perfeitinha e não quero nem a boca nem o nariz de ninguém...Hi!Acho que é por ser fiel a mim mesma,essas coisas transparecem...
Agora vou escrever mais coisas antes que chegue aí o Mega,já que a outra já comentou...(eu gosto deles ou delas sei lá,mas não lhes digas...segredinho nosso)!
Apetecia-me comentar o anónimo mas sei que não devo,até porque tu já o fizeste e bem (tu fazes alguma coisa mal?)...
Engraçado como o nosso passado ainda nos surpreende,não sei se capacidade dele ou nossa...
Olha eu sou uma inadaptada,dou-me mal com a sociedade,com o mundo,enfim,com a humanidade...E sofro porque não percepciono as coisas correctamente...Mas não mudo,eu gosto de ser assim!
Continua também a ser e a pensar assim,não mudes porque se o fizesses seria sempre para pior...
Não sei como é possível alguém não te perceber,percebo que não te percebam mas,olha,eu percebo-te tanto...
Beijinhos cúmplices*

Salvador disse...

Bom dia, Utena...))

Gosto dos seus idealismos, que neste texto são os seus realismos.
E é no ser genuíno, natural, que está o ganho.
Eu penso assim, mas também eu sou um sonhador.

Por falar em sonhos, o negócio como vai? Aposto que não fez greve...))

Paula disse...

Tilida:
Perguntas see não faço nada de mal? Faço minha linda... muitas coisas...tanta merda.
As vezes sem querer e muitas de proposito :)
Mas tento estar na minha vida sendo fiel a mim mesma.
Tal como tu por isso me entendes... pensas como eu.
Beijos grandes e sorrisos constantes :)

Paula disse...

Olá Salvador,

Somos iguais também sou bastante sonhadora e como sonhar ainda não paga impostos,tento ir sonhando e idealizando um mundo mais realista.
Greves??? Nem pensar... Não gasto disso.
O negócio vai andando, devagar mas com muito amor e carinho
:)

retiro o que disse... disse...

Utena... bem... por alguma razão já me gabaram o teu sofá.
Que agradável cantinho aqui tens...

E o gosto pela Islândia. Partilho.

Beijo* e obrigada pelo convite

Paula disse...

Retiro mi casa és su casa...
Obrigada pelo elogio...
Adoro a neve e o país é fantastico.
Beijo e obrigada por teres aceite

A.S. disse...

Ainda que a marca dos teus passos se desvaneça e apague, fica sempre contigo o prazer de cada passo que deixaste impresso na areia da praia...
Na vida... tudo é tão breve!!!

É lindo o teu texto!

Beijos,
AL

Paula disse...

Olá AL,

Obrigada pelo lindo comentário. Passei de leve no teu blog. Amanha volto para me fixar melhor.
Beijos

AvoGi disse...

cheguei aqui vinda dali do blogue da TILIDA e deparo-me com estas palavras tão belas. adorei
fiquei fã do blogue. hoje em dia as criança snao brinca na rua, nao é seguro e por isso perdem toda a vivência saudável que estar na rua ao sol na praia , hoje em dia aos pais andam amedrontados com o roubo de crianças que nao as deixam ser criança s, só as preocupam : toma cuidado , nao olhes nao vejas nao fales. coisa que noutros tempo nao acontecia. tempos esse d liberdade de saúde de alegria.
como já diss egostei do blogue pro isso fiz-me sócia (per)seguidroa.
kis :=):=)

Gi disse...

Eu acho que a AVOGI está apaixonada por mim...
Utena o que faço,eu nunca estive numa situação destas...
Kis (como ela diz)*

Paula disse...

Olá Avogi, bem vindo a este meu sofá virtual. Faz dele o teu descanso também
Obrigada pelas palavras.
Beijinho

Paula disse...

Aprotveita Tilida, o amor é bom desde de que na dose certa e no momento certo.
Existem muitas formas de paixão...e tu minha querida és uma apaixonada pela vida... por isso...
Beijos :)

Mega disse...

E só tenho a dizer uma coisa depois de tudo o que aqui foi dito.
Fica sempre com areia nós pés.
Nunca deixes de andar na areia.
Beijo sincero

Paula disse...

Olá Mega, como foi o strike day?
Não isso nunca, faça sol ou chuva, raios ou trovoada lá estarei... sempre.
Beijos