quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Taras ou Manias? II


Novo mergulho na imaginação de um texto baseado numa imagem.
Vamos ver como corre...
“Gosto da sensação que me transmite o teu chão pulsante de vida sob os meus pés… da luz que se infiltra por entre as ramagens das arvores… nossas confidentes… amigas de longa data… O ar que me invade é conhecido… como se de um velho amante se tratasse… que me envolve e me deixa tonta pela saudade.
Nunca pensei no primeiro dia que pisei a tua terra… coberta de musgo por entre as raízes saídas… testemunhas da vida de quem suportam que nos íamos tornar inseparáveis.
A primeira impressão que me deixaste no corpo… foram as manchas verdes… colagens naturais de um salto mal dado que acabou comigo… espalmada contra ti… no princípio confesso fiquei fula, mas quando te observei pelo ângulo dos teus mais pequenos hóspedes foi no dia em que te comecei a amar.
Engraçado fugia de casa para me esconder entre os teus recantos secretos… saia do trilho como uma aventureira em buscar de um tesouro qualquer, mas nunca me fizeste perder… e os tesouros… esses… conseguiste que os descobrisse dentro de mim… no fundo da minha alma.
Foste a minha cama, onde me entreguei pela primeira vez aos frutos do amor… cobriste-me com a tua luz… filtrada e mágica… tornaste o momento único.
Vim apresentar-te os meus projectos… no silêncio do teu leito pensei…ponderei… arrisquei e venci!
Mas as vitorias tenhem custos meu amigo…e a minha foi tão cara… tirou-me da tua protecção por tempo demais. As saudades magoam… ferem a alma, meu amigo e deixam-nos incompletos!
Não te devia ter abandonado por tanto tempo… vê partiram as raízes que atravessam o trilho… sujaram a tua terra com desperdícios de uma vida mundana que nunca deixaria que te invadisse.
Perdoa-me!
Mas desta vez vim para ficar… olha para mim… não me reconheces? Não vês nesta velha de corpo mirrado e magro e compridos cabelos brancos a menina traquina de caracóis ruivos que enchia o teu ar de risos?
Sou eu… voltei… e desta vez de forma a fundir-me a ti. Não os vês? A cumprirem o ultimo dos meus desejos?
A soprarem ao vento o pó que já foi corpo?
Repara na minha neta… é parecida comigo não é?
Espera vou apenas despedir-me dela e entregar-me a ti… minha arca de Pandora… meu refugio feliz!”



4 comentários:

Sofia disse...

Que lindo, eu acho que este texto está espantoso!Gosto sobretudo da forma como pegas em cada palavra e lhe conferes vida e sensações.
Beijinhos,
Sofia

Paula disse...

Obrigada Sofia,esta é a minha forma de exorcizar demoninos ou como ja alguem me disso de auto análise.
Beijinhos

M. disse...

A imagem é a do post?

Se sim, muda o título para Taras e Manias...lol

Lindo. Uma outra pintura.

Paula disse...

M.
Sim a imagem é do post e o titulo é uma sequencia de outro texto.

Obrigada...
Beijo (hoje para ser diferente)