segunda-feira, 11 de abril de 2011

A intensidade de um rapto


Já não era a primeira vez que me dizias, “um dia rapto por uma horas”… a verdade é que o facto de não haver de ambas as partes obrigações de tempo… de nos vermos fazia com que cada encontro fosse único e especial.
Sem cobranças… apenas o simples prazer de nos vermos… de nos sentirmos.
Sai cedo pela manha no domingo que finalmente decidiste levar a cabo, esse “rapto” várias vezes prometido… precisava de esticar os músculos e as aulas de alongamento que frequento aos domingos de manha era mesmo o que estava a precisar… levantei-me, bebi um sumo de laranja preparei o saco e sai.
Adoro a sensação de inicio da Primavera, o vento suavemente fresco pela manha… o chilrear dos pássaros… o lufa-lufa da natureza que se prepara para a estação tórrida do ano.
É impossível não nos sentirmos estupidamente alegres num dia assim… o sorriso aflora a cara com facilidade e dei por mim a cantar a plenos pulmões a caminho do ginásio.
No final de 60 minutos de alongar cada músculo e cada tendão dirigi-me aos balneários para o merecido banho… enquanto abria o cacifo dei por mim a sentir o vibrar de uma mensagem… olhei o monitor e sorri… uma mensagem tua pela manha.
Dizias:”Onde andas? Hoje é dia de te tirar da realidade por umas horas e seres só minha!”
Respondi: “Estou a sair neste momento da aula no ginásio!”
Ao que respondeste:”Dou-te meia hora, espero por ti cá fora!”
Sorri e despachei-me para sair!
Engraçado mas nunca te tinha visto sob a luz do sol… a nossa cúmplice tinha sido sempre a lua ou a luz difusa de um dia de chuva que torna tudo irreal e mágico. Dei por mim a pensar se não iríamos perder um pouco do que sentíamos sob a luz fria e crua deste domingo de Primavera.
Deixei o saco no carro, agarrei no blusão e sai ao teu encontro… estavas encostado a moto… dois capacetes no banco… olhar semi-cerrado… sorriso trocista!
Dei por mim presa como me acontece sempre ao dourado do teu olhar… cheguei junto a ti e depois de um abraço apertado… agarraste-me as mãos atrás das costas pousaste os lábios nos meus e sussurraste… “pronta para umas horas na Terra do Nunca?”
Não resisti…suavemente delineei a tua boca com a minha língua e respondi “Estava a ver que nunca mais convidavas!”
Subi para a moto, coloquei os braços na tua cintura e deixei-me levar… por umas horas… sem rumo… sem direcção… sem querer saber o destino.
È fácil para mim andar de mota, anos de equitação educou o meu corpo a adaptar-se as curvas e a deixar a responsabilidade em quem conduz!
Paramos na serra… num local que nunca tinha visto antes… longos trilhos salpicados por flores selvagens… pequenas pinceladas de cor por entre o imenso verde… o silencio era ensurdecedor…
Disse baixinho:”esqueci-me que estava com fome…. Agora estou esfomeada!”
Olhaste para mim boquiaberto até te dares conta que me referia de facto a comida… abanaste a cabeça e disseste:
“Ai Miss Utena o que seria de si sem mim… tiraste a mochila e de lá um simples almoço que a mim me pareceu perfeito!”
Sentamo-nos contra uma árvore… isolados das horas… do trânsito do mundo… ficamos em silêncio absorvendo a companhia um do outro…
Por entre o silêncio falamos de tudo… dos medos… dos anseios… dos sonhos… das promessas quebradas… das raivas incontroladas!
Deste-te a mim da mesma forma que a ti me entreguei… sem barreiras ou falsas máscaras!
Não me importo de me mostrar a ti como sou! Face limpa… armadura despida! Tal como sei que te mostras a mim… lado de mauzão recolhido!
Rimos até chorar e nos abraçarmos a barriga da loucura que aprontamos e dos segundos roubados ao ininterrupto tic-tac da vida!
Fomos amantes nessa tarde de inicio de Primavera tendo como companhia o verde da Natureza pincelado com as primeiras flores da Estação!
E regressamos à vida… frescos… renovados!
Deixaste-me onde me apanhaste com um abraço forte…
“Boa viagem até casa Miss Utena! Manda mensagem quando chegares!”
“Igualmente cavalheiro… toma conta de ti!”
Afastei-me apenas ligeiros centímetros e de novo me vi abraçada contra o teu peito… mãos enroladas no meu cabelo… a tua boca a escassos milímetros da minha… suspiras-te e depois de um beijo longo disseste:
“Gosto do teu novo perfume… subtil e forte!”
Sorriste pisca-te o olho e perguntas-te:
“Pensavas que não tinha notado?”
“Boa-noite Cavalheiro” disse sorrindo
“Procura-me nos sonhos” respondeste.

8 comentários:

tilida5ever design disse...

Isto é verdade ou ficção?

Paula disse...

Rosinha,
Toda a ficção tem uma base na realidade

Bjo

M. disse...

Então que a realidade do sonho te adormeça muitas vezes:)

Depois:)

Paula disse...

M.
O sonho comanda a vida ja o outro dizia.

;)

MissBlueEyes disse...

Adorei! Poderia ter sido Eu a escrever estas palavras à uns anos atrás... :)

Paula disse...

Olá Miss BlueEyes,

Obrigada...

Nokas disse...

Bem...simplesmente emocionante!!

Paula disse...

Nokas,

Nada como deixar as vezes a imaginação tomar o seu rumo e segurar nas rédeas.

:)