sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Caixa de memórias


Dou por mim deitada entre as paredes do quarto que tantas noites, me acolheu em tempos passados de memórias longínquas que reservo numa parte especial da minha caixa de recordações.
Existe quem o faça em caixas reais, com fotos, lembranças especiais e muitas vezes mechas de cabelo e dentes de leite… eu nunca assim o fui prefiro guarda-las junto de mim á distancia de um pensamento isolado que muitas vezes me assola num fim de tarde quando dou o dia por terminado e me recolho junto ao mar nem que seja por apenas 5 minutos e isolo o mundo ficando apenas eu.
Aí basta seguir o mesmo processo que tantos seguem quando abrem a sua caixa de lembranças marcantes e especiais… retiram a caixa e vão passando pelos dedos cada um dos seus bens preciosos que desencadeiam sorrisos… raiva e muitas vezes lágrimas silenciosas ou momentos de verdadeira devoção.
Eu faço o mesmo… fecho os olhos e ao abrir a minha caixa de pensamentos deixo-os vagar livres pelo meu ser e envolvo-me neles deixando momentos passados voltarem… palavras novamente voltam a ser ditas…beijos sentidos e abraços quentes que me envolvem e me fazem concluir que somos aquilo que vivemos… e aquilo que aprendemos enquanto o fazemos.
Hoje talvez seja um desses meus momentos onde as lembranças vêm com uma força tal que não as consigo isolar e me manter presente e atenta… constantemente fixa na realidade.
Não lido bem com a perda, mas não a perda de um namorado ou de um bem material, não! Não lido bem com a perda de marcos na minha vida que a sustentam como ela é… humana ou animal saber que estou prestes a sofrer uma deixa-me melindrada e quando assim fico torna-se demasiadamente fácil fugir para o meu mundinho das lembranças e dos momentos que passaram e que não voltam.
Voltar a esta casa, a casa do meu avô materno é sempre um misto dessas sensações… ver que tal como estas paredes se degradam também ele tem vindo a sofrer a passagem do tempo e de uma forma implacável deixa-me sem ar… sem força…
E mesmo guerreira que sou… Mesmo vestindo a armadura que me faz sorrir ou mesmo gargalhar com as situações que ele cria ou conta por vezes tudo se torna esmagador e mais forte do que eu e aí inconscientemente dou por mim observando a cena de longe enquanto penso que foi naquele tanque que tantas vezes pisei as uvas que ele criou com tanto amor ou nesta cozinha que tantas vezes ele me cantou o fado quando vinha mais alegre.
Sei que tenho de aproveitar cada segundo que tenho com ele, mas acho tão injusto que nestes últimos tempos que ele passa nesta terra que se esta a tornar cada dia mais fria e desumana o passe com dores físicas e emocionais.
E se juntarmos a isso tudo o facto de a minha fêmea estar um pouquinho pior porque me cospe os medicamentos mais sensível fico e menos resistente me torno as emoções que me invadem selvaticamente.
Resta-me fazer aquilo que me propus que foi a surpresa de passar o fim-de-semana dos seus anos presente com gargalhadas, mimos e olhares cúmplices mesmo que veja que tantas vezes também ele se deixa invadir pela sua caixinha de memórias quando esta casa estava cheia e os seus filhos e netos lhe tinham respeito e consideração.
Tal avô… tal neta. Temos a mania que somos fortes acabamos sempre por sofrer mais do que aqueles que se lamentam do seu destino todos os dias.
Fecho a caixa por hoje vou deixar a lua que entra pela janela aberta do quarto me fazer companhia e me envolver nos seu brilho…pode ser que tenha uma noite sem sonhos… pode ser!

10 comentários:

Eva Gonçalves disse...

Também tenho uma caixinha dessas que volta e meia reabro. A mim, custam-me todas as perdas... mesmo aquelas que já sentimos por antecipação, como a que estás a sentir... pois misturam-se a perda da tua infância, que lembras, com a perda da juventude do teu avô... com a perda de um local que não poderás mais visitar e onde foste feliz, com a perda de tanto de ti que não volta mais... com a futura perda real, para semepre de alguém que amas... as perdas entrelaçam-se e ampliam a dor...As memórias são o nosso bem mais precioso. As nossas perdas, os fardos mais pesados... quem nos ama, o porto mais seguro... Um beijinho para ti e bom fim-de-semana!

Anónimo disse...

Nós somos uma caixa sem dimensão. Nela cabem pessoas, cabem casas, podem até caber cidades e países. Admiro as pessoas cuja sua caixa não se limita às suas dimensões.

A minha caixa também é assim, não sei a sua dimensão e quantas mais recordações, berloques e peso tiver tiver, melhor para mim. Significa que de vazio tenho pouco, e tu és uma dessas pessoas, que pelo menos tem consciência que a sua dimensão não é propriamente medível. Quando chegares à idade do teu avô terás uma caixa a abarrotar e se possível sem dores físicas e emocionais incluídas, porque essas, dizem, devem ser prevenidas e tratadas no presente, sob pena de se tornarem crónicas :)

Ahh.. noites sem sonhos! É ótimo e trás consigo muita paz interior :)

bjs

Luísa Lopes disse...

Que se possa preservar a dignidade e não sofrer,é o que desejo.
Força e aproveita.

Paula disse...

Eva,

Tudo faz de nós o que somos.
Apenas penso que devíamos aproveitar mais a dádiva da vida.

Beijo

Paula disse...

Martini,

Muitas vezes dores não podem ser evitadas.
E sim noites sem sonhos são o descanso da alma.

Felizmente a minha ontem foi assim. Pelo menos o pouco que dormi.

Beijo

Paula disse...

Luísa,

Isso é o principal.
Obrigada.

Beijo

M.J. disse...

Acho que todos nós temos uma caixa e que de vez em quando abrimos ou abre-se por si...

Perder algo, seja ele pessoal ou material custa sempre, eu já perdi 1 das pessoas que mais amo na vida e ainda hoje me custa lembrar, penso que tal como estou longe de casa agora, quando voltar lá estará mas a verdade é que não está e custa...

aproveita sempre o conforto familiar que é das melhores coisas que se pode ter!

bjs

Paula disse...

M.J.

Somos menos de nada mesmo e temos de aproveitar quem nos ama e nos complementa essa é a chave da questão.

Beijo

Teresa Santos disse...

Força, guerreira, força.

Beijinho.

Paula disse...

Teresa,

Estou a tentar

=)
Beijo