terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Viagem (2ª parte)

Muito bem vamos ver o que sai daqui, raramente continuo os meus contos mas penso que “A Viagem” merece continuação. Se quiserem seguir a história de forma completa, vejam a etiqueta “Conto continuado”… espero não desiludir…

Os dias foram passando e sem sequer se dar conta Dierna foi mudando… passou de mulher sofrida e sempre preocupada com o peso do mundo a alguém de sorriso fácil… aprendeu a rir e isso iniciou a cura que nem ela pensava necessitar.
Acordava cedo pela manhã e saia para o fresco verde com uma leveza que quem a conhecesse iria ter de olhar duas vezes para reconhecer a mulher cinzenta que entrava no escritório… sorriso nos lábios, maça na mão e uma música na alma que por mais que tentasse não sabia onde a tinha ouvido pela primeira vez…
Nessa manhã resolveu fazer algo pelos seus amáveis donos da pensão que via já como lar … vestiu uma roupa confortável prendeu o seu longo cabelo ondulado e desceu para a cozinha… cantarolando dedicou-se a fazer um pequeno-almoço de reis… eles mereciam tinham sido fabulosos com ela durante aquela maravilhosa semana…
Sentia-se em casa como nunca se tinha sentido no seu pequeno apartamento de cidade… fez o sumo, preparou os ovos e o bacon… dedicou-se as torradas com uma vontade tal que parecia que as coitadas lhe tinham feito alguma coisa… estava no meio de fazer o bolo quando tomou consciência da presença masculina junto a porta… os seus sentidos ficaram em alerta como se tivesse sido percorrida por milhões de pequenos estímulos eléctricos…
Coçou o nariz…sorriu e disse:
-Está aí á muito tempo? Nem dei por si…
Ele deslocou-se no seu passo felino…tipicamente masculino nada daquelas espécies de híbridos que tinha conhecido no ginásio… onde mesmo era o ginásio?
Mas porque raio aquele homem lhe bloqueava as ideias… ela orgulhosamente apelidada de Miss Gelo…
-Tens o nariz cheio de farinha… posso? E sorrindo limpou o nariz enquanto lhe olhava nos olhos…
E absorvia a alma? Céus não sei como raio não ouve ele o meu coração… parece que vai saltar do peito…olhou para cima a medo e lá estava novamente o reconhecimento certo de saber que conhecia bem aquele que apenas tinha visto a poucos dias e de uma forma bastante complicada…
-Pensei em vir pedir-te desculpa por não ter sabido ser civilizado – disse em voz rouca – o meu nome é Gawen… prazer?
-Não tem importância não posso dizer que fui minimamente cortês contigo certo? Nem te agradeci por me teres trazido a casa… o meu nome é Dierna. “Não me reconheces? “ pensou…
Abanando a cabeça confusa afastou-se dele e tentando assumir o controlo da mente e da alma suspirou e disse:
- Porque não comes connosco? Tive a fazer o pequeno-almoço para a tua irmã e cunhado assim a surpresa era completa… ela fala muito de ti sabes? Tem-te em muita estima… és o herói dela.
Sabia que estava a balbuciar coisas sem nexo mas não conseguia evitar… era mais forte que ela. Olhou para trás e viu o sorriso trocista dele… aproximando-se dela devagar disse baixinho:
-Sabes que tenho curiosidade em saber se os teus lábios têm a doçura que mostram – e roçando os dele nela foi como se o mundo parasse por uns momentos… a antecipação de o sentir tomou conta de Dierna e ela entreabriu os lábios convidando subtilmente a que ele tomasse posse deles…
- Sim estou a dizer-te que me cheira a bolo…Ups desculpem não sabíamos que estavam aqui…
Dierna não devias fazer isso… têm tudo um aspecto delicioso.
-Claro que devia, vocês tem sido especiais comigo e era o mínimo… o teu irmão passou por cá e eu aproveitei e convidei-o a ficar.
Posto isto afastou-se em direcção ao forno sentindo-se gelada como se o afastar dos braços de Gawen a deixassem fisicamente dormente.
Ao longe ouvia os irmãos a falar… a cadência da pronúncia sempre a tinha fascinado mas na voz dele era…sensual?
- Para com isso já! Ralhou consigo mesma – Parece que já não tens sarna que chegue para te coçar…
- Dierna estás a ouvir? Vai se realizar outra vez aqui a feira medieval… vais adorar é como se voltássemos ao tempo dos Deuses antigos e das sacerdotisas… a noite torna-se mágica e já sei o que vais vestir… sim a ti com esse cabelo é que fica bem e vais com o meu irmão está decidido… vão ficar lindos juntos.
- Para com isso mana, não sabes se ela quer ir…
Dierna olhou os olhos dele…cinzentos…brilhantes e decidiu… que se lixe loucura por loucura uma a mais ou a menos não faz diferença…
- Gostaria muito de ir se não te importares… de me levar contigo. O brilho que viu depois no olhar dele aqueceu-a mais que uma tarde de sol na praia e soube inevitavelmente com a certeza que não se explica que a vida dela não mais seria a mesma.
O dia da festa chegou sem que ela desse por ela… e já estava em frente ao espelho olhando para o reflexo sabendo que não era ela… e ao mesmo tempo era… sentiu-se uma sacerdotisa de verdade… uma feiticeira de tempos idos e a irmã de Gawen tinha razão era o vestido certo para o seu cabelo…
Ouviu a voz dele lá em baixo e os seus lábios abriram-se instintivamente quase conseguindo sentir o sabor da sua boca… desceu as escadas e entrou na sala…
- Meu Deus… estás linda… não está Gawen?
Dierna olhou para ele e sentiu a certeza na pele que era dele… sempre tinha sido… que se passava com ela? Ela sempre fora céptica em relação a certas coisas… sim está certo que adorava as lendas e que muitas vezes preferia o conhecimento antigo ao moderno… mas era como se lembranças de vidas anteriores a estivessem a assaltar…
Já o tinha amado muito… mas também já o tinha feito sofrer muito… a ambos!
Saiu para o frio da noite com Gawen do seu lado… calado… sorumbático…tão ausente como se fosse apenas o seu espírito que estava ali do seu lado.
- Olha se calhar isto foi um erro… não precisas de ir comigo Gawen eu vou sozinha.
- Ah? Erro? Achas mesmo isso? Vem comigo tenho de te levar a um sítio.
Seguiram em silencio até ao circulo de pedras onde se tinham conhecido pela primeira vez… lá dentro era como se o tempo não contasse… e nem o frio se instalava…
- Um erro? Dizes tu Dierna? Sabes quantas vezes desde de que te vi aqui enrolada e assustada pensei que estava a enlouquecer? Todos os dias… apaixonei-me por ti naquela noite e sempre que te vejo apetece-me magoar-te e amar-te e não sei porque.
Sabes o que é saber na certeza da alma que és minha? Passar as noites a pensar em ti… sonhar contigo e mesmo vendo rostos desconhecidos saber que és tu?
Não estou louco estou? Diz-me se sentes o mesmo… se aquele breve instante em que quase te entregaste a mim é real.
Ela aproximou-se dele devagar… e colocando-se em pontas dos pés selou os seus lábios com os seus… e foi como se estivesse a procura daquele instante a sua vida toda…
-Não estás louco… se estivermos estamos os dois… sinto que já te amei… que te perdi e que te magoei… e não entendo. Irritas-me e ao mesmo tempo atrais-me… não sei o que se passa só sei que te quero.
O olhar de Gawen disse-lhe que se os lábios se voltassem a unir nada iria parar os acontecimentos daquela noite…
-Vem meu amado… meu rei… minha alma… a voz era sua… o conhecimento de muitas que foram ela e que não foram…
O toque dele era fogo e água e mesmo na urgência foi o mais carinhoso dos amantes… e se na primeira vez foi o desejo que falou mais alto e o poder carnal que tomou as rédeas… nas que se seguiram foi a tentativa de memorizar cada sinal e cada contorno dos corpos cujas almas se reconheceram mas que na realidade eram desconhecidos entre si…
Dierna acordou de madrugada…sentindo-se mulher e amada… saciada na plenitude da essência… quando olhou para Gawen do seu lado pensou que poderia morrer por ele…
E aí desencadeou tudo…
Era ela e não era… era ele e não era… ela tinha esperado por ele com o filho no ventre e ele não veio… até que sentiu na profundeza do ser que ele tinha partido para sempre e a tinha deixado só entre os inimigos da sua gente… a maldição que saiu da sua boca foi sentida pelos céus e pela terra…
Não mais me vais ter… nunca mais por ti espero… abandonaste-me na morte renego-te na vida…
Gawen acordou com o chorar de Dierna…
Quando lhe tocou ela retraiu-se da sua mão… não consigo sussurrou… desculpa mas não pode ser está tudo errado.
-Errado? Dierna como pode estar tudo errado? Não me faças isto por favor…
-Desculpa… não consigo respirar aqui…tenho de sair daqui… não me toques não ia suportar.
E com isso fugiu dele… das lembranças… da certeza que alguém lhe tinha roubado a alma e sem saber o que fazer para a conseguir de volta…só sabia que tinha de fugir… e de escapar de um destino feito que não queria cumprir… 

Ps: Ora cá me estiquei eu outra vez… sim eu sei mas esta história está a fluir de uma forma engraçada…e nem eu sabia que rumo iria tomar… leiam e vejam se gostam… e se acharem que sim que devo continuar…eu continuo com ela… se a imaginação o permitir claro.

16 comentários:

Anónimo disse...

Uma história cheia de magia....
obrigado por nos levares até à escócia :-) mais uma vez!!
espero que tenha continuação :-)
adorava saber o que se segue... vou ficar atenta.

Beijos grandes escritora :-)
OlgaM

Anónimo disse...

Eu não sei se já te tinha chegado a perguntar isso, mas já pensaste em publicar um livro?

Paula disse...

Olga,

Não deixa de ter influencias sobre o que leio... mas deixa ver onde me leva a imaginação...

Obrigada beijinhos

Paula disse...

Fire,

As vezes penso... mas depois acho que não o ia conseguir fazer

CF disse...

E eu interrompo um bocado do meu trabalho para te dizer que sempre gostei de lendas, tendo por cenários Terras longínquas...tipo lenda do Rei Artur; Camelot; Braveheart; etc, etc...
Este teu conto conseguiu prender a minha atenção e na minha modesta opinião não ficou a dever a outras histórias destas...
Gostei muito! Ficarei a aguardar a sua continuação que tenho a certeza será bem interessante, tendo em conta a tua imaginação e criatividade.
Parabéns amiga

Paula disse...

CF,

Quanta honra... interromper o trabalho pelo meu conto...

Obrigada minha querida... vamos ver o que sai.

Beijinhos

Anónimo disse...

Utenamiga

Está a fluir - e bem. Longa? Chata? Longa e chata era a espada do filho que começou esta trampa a bater na mãezinha dele. Esta entusiasma e leva a que fique à espera da continuação.

Olha, uma vez em Luanda, no jornal humorístico semanal onde colaborava o Miau, decidimos fazer um folhetim, com um formato especial.

Cada um escrevia um episódio e na semana seguinte outro tomava a escrevinhadela, sem ler o papel anterior. Lindo.

Resultado: ao fim de quatro meses e picos, acabei com o desgraçado. As inúmeras personagens (cada um acrescentava mais umas) coloquei-as todas num atol do Pacífico onde se experimentavam as bombas antónias, digo, atómicas. Bummmm!!!! Vitória, vitória, acabou-se a estória.

E por estória: lá na nossa Travessa há uma que mete um pai baboso e os seus três filhotes, em... 1969. Estou mesmo velho...

Qjs

Paula disse...

Henrique,

Amigo obrigada por tão carinhosas palavras... passo na travessa assim que possivel.

Beijinhos

CF disse...

Nestes momentos solitários (do meu trabalho), a honra de ler o teu conto foi minha. Acredita!:)
Além disso, de toda a miséria diária que nos "emprenha" pelos ouvidos..isto foi música :)
bjs

Paula disse...

CF,

Olha que assim fico corada =)

Obrigada querida

Beijinho

Anónimo disse...

Gostei muito do seguimento, mas olha que essa Dierna é mais que complicadinha. Não há Gawen que aguente! Por favor, dá-lhe alguma paz :)

Paula disse...

Martini,

A Dierna não é complicada... são recordações que a baralha, =)
Mas eu gosto do Gawen... eu ainda o deixo ser feliz

Catarina disse...

A Dierna é mesmo complicadinha... Mas o que se poderia esperar, é uma mulher forte :p

Estou a gostar bastante!*

Paula disse...

Catarina,

A Dierna está a passar por mudanças =)
Beijo

Catarina disse...

Eu sou complicadinha, será que estou a passar por mudanças? :p Estou a brincar!*

Paula disse...

Catarina,

Todos estamos.
Tens dúvidas disso?
=)