Muito bem vamos ver o que sai daqui, raramente continuo os meus contos mas penso que “A Viagem” merece continuação. Se quiserem seguir a história de forma completa, vejam a etiqueta “Conto continuado”… espero não desiludir…
Os dias foram passando e sem sequer se dar conta Dierna foi mudando… passou de mulher sofrida e sempre preocupada com o peso do mundo a alguém de sorriso fácil… aprendeu a rir e isso iniciou a cura que nem ela pensava necessitar.
Acordava cedo pela manhã e saia para o fresco verde com uma leveza que quem a conhecesse iria ter de olhar duas vezes para reconhecer a mulher cinzenta que entrava no escritório… sorriso nos lábios, maça na mão e uma música na alma que por mais que tentasse não sabia onde a tinha ouvido pela primeira vez…
Nessa manhã resolveu fazer algo pelos seus amáveis donos da pensão que via já como lar … vestiu uma roupa confortável prendeu o seu longo cabelo ondulado e desceu para a cozinha… cantarolando dedicou-se a fazer um pequeno-almoço de reis… eles mereciam tinham sido fabulosos com ela durante aquela maravilhosa semana…
Sentia-se em casa como nunca se tinha sentido no seu pequeno apartamento de cidade… fez o sumo, preparou os ovos e o bacon… dedicou-se as torradas com uma vontade tal que parecia que as coitadas lhe tinham feito alguma coisa… estava no meio de fazer o bolo quando tomou consciência da presença masculina junto a porta… os seus sentidos ficaram em alerta como se tivesse sido percorrida por milhões de pequenos estímulos eléctricos…
Coçou o nariz…sorriu e disse:
-Está aí á muito tempo? Nem dei por si…
Ele deslocou-se no seu passo felino…tipicamente masculino nada daquelas espécies de híbridos que tinha conhecido no ginásio… onde mesmo era o ginásio?
Mas porque raio aquele homem lhe bloqueava as ideias… ela orgulhosamente apelidada de Miss Gelo…
-Tens o nariz cheio de farinha… posso? E sorrindo limpou o nariz enquanto lhe olhava nos olhos…
E absorvia a alma? Céus não sei como raio não ouve ele o meu coração… parece que vai saltar do peito…olhou para cima a medo e lá estava novamente o reconhecimento certo de saber que conhecia bem aquele que apenas tinha visto a poucos dias e de uma forma bastante complicada…
-Pensei em vir pedir-te desculpa por não ter sabido ser civilizado – disse em voz rouca – o meu nome é Gawen… prazer?
-Não tem importância não posso dizer que fui minimamente cortês contigo certo? Nem te agradeci por me teres trazido a casa… o meu nome é Dierna. “Não me reconheces? “ pensou…
Abanando a cabeça confusa afastou-se dele e tentando assumir o controlo da mente e da alma suspirou e disse:
- Porque não comes connosco? Tive a fazer o pequeno-almoço para a tua irmã e cunhado assim a surpresa era completa… ela fala muito de ti sabes? Tem-te em muita estima… és o herói dela.
Sabia que estava a balbuciar coisas sem nexo mas não conseguia evitar… era mais forte que ela. Olhou para trás e viu o sorriso trocista dele… aproximando-se dela devagar disse baixinho:
-Sabes que tenho curiosidade em saber se os teus lábios têm a doçura que mostram – e roçando os dele nela foi como se o mundo parasse por uns momentos… a antecipação de o sentir tomou conta de Dierna e ela entreabriu os lábios convidando subtilmente a que ele tomasse posse deles…
- Sim estou a dizer-te que me cheira a bolo…Ups desculpem não sabíamos que estavam aqui…
Dierna não devias fazer isso… têm tudo um aspecto delicioso.
-Claro que devia, vocês tem sido especiais comigo e era o mínimo… o teu irmão passou por cá e eu aproveitei e convidei-o a ficar.
Posto isto afastou-se em direcção ao forno sentindo-se gelada como se o afastar dos braços de Gawen a deixassem fisicamente dormente.
Ao longe ouvia os irmãos a falar… a cadência da pronúncia sempre a tinha fascinado mas na voz dele era…sensual?
- Para com isso já! Ralhou consigo mesma – Parece que já não tens sarna que chegue para te coçar…
- Dierna estás a ouvir? Vai se realizar outra vez aqui a feira medieval… vais adorar é como se voltássemos ao tempo dos Deuses antigos e das sacerdotisas… a noite torna-se mágica e já sei o que vais vestir… sim a ti com esse cabelo é que fica bem e vais com o meu irmão está decidido… vão ficar lindos juntos.
- Para com isso mana, não sabes se ela quer ir…
Dierna olhou os olhos dele…cinzentos…brilhantes e decidiu… que se lixe loucura por loucura uma a mais ou a menos não faz diferença…
- Gostaria muito de ir se não te importares… de me levar contigo. O brilho que viu depois no olhar dele aqueceu-a mais que uma tarde de sol na praia e soube inevitavelmente com a certeza que não se explica que a vida dela não mais seria a mesma.
O dia da festa chegou sem que ela desse por ela… e já estava em frente ao espelho olhando para o reflexo sabendo que não era ela… e ao mesmo tempo era… sentiu-se uma sacerdotisa de verdade… uma feiticeira de tempos idos e a irmã de Gawen tinha razão era o vestido certo para o seu cabelo…
Ouviu a voz dele lá em baixo e os seus lábios abriram-se instintivamente quase conseguindo sentir o sabor da sua boca… desceu as escadas e entrou na sala…
- Meu Deus… estás linda… não está Gawen?
Dierna olhou para ele e sentiu a certeza na pele que era dele… sempre tinha sido… que se passava com ela? Ela sempre fora céptica em relação a certas coisas… sim está certo que adorava as lendas e que muitas vezes preferia o conhecimento antigo ao moderno… mas era como se lembranças de vidas anteriores a estivessem a assaltar…
Já o tinha amado muito… mas também já o tinha feito sofrer muito… a ambos!
Saiu para o frio da noite com Gawen do seu lado… calado… sorumbático…tão ausente como se fosse apenas o seu espírito que estava ali do seu lado.
- Olha se calhar isto foi um erro… não precisas de ir comigo Gawen eu vou sozinha.
- Ah? Erro? Achas mesmo isso? Vem comigo tenho de te levar a um sítio.
Seguiram em silencio até ao circulo de pedras onde se tinham conhecido pela primeira vez… lá dentro era como se o tempo não contasse… e nem o frio se instalava…
- Um erro? Dizes tu Dierna? Sabes quantas vezes desde de que te vi aqui enrolada e assustada pensei que estava a enlouquecer? Todos os dias… apaixonei-me por ti naquela noite e sempre que te vejo apetece-me magoar-te e amar-te e não sei porque.
Sabes o que é saber na certeza da alma que és minha? Passar as noites a pensar em ti… sonhar contigo e mesmo vendo rostos desconhecidos saber que és tu?
Não estou louco estou? Diz-me se sentes o mesmo… se aquele breve instante em que quase te entregaste a mim é real.
Ela aproximou-se dele devagar… e colocando-se em pontas dos pés selou os seus lábios com os seus… e foi como se estivesse a procura daquele instante a sua vida toda…
-Não estás louco… se estivermos estamos os dois… sinto que já te amei… que te perdi e que te magoei… e não entendo. Irritas-me e ao mesmo tempo atrais-me… não sei o que se passa só sei que te quero.
O olhar de Gawen disse-lhe que se os lábios se voltassem a unir nada iria parar os acontecimentos daquela noite…
-Vem meu amado… meu rei… minha alma… a voz era sua… o conhecimento de muitas que foram ela e que não foram…
O toque dele era fogo e água e mesmo na urgência foi o mais carinhoso dos amantes… e se na primeira vez foi o desejo que falou mais alto e o poder carnal que tomou as rédeas… nas que se seguiram foi a tentativa de memorizar cada sinal e cada contorno dos corpos cujas almas se reconheceram mas que na realidade eram desconhecidos entre si…
Dierna acordou de madrugada…sentindo-se mulher e amada… saciada na plenitude da essência… quando olhou para Gawen do seu lado pensou que poderia morrer por ele…
E aí desencadeou tudo…
Era ela e não era… era ele e não era… ela tinha esperado por ele com o filho no ventre e ele não veio… até que sentiu na profundeza do ser que ele tinha partido para sempre e a tinha deixado só entre os inimigos da sua gente… a maldição que saiu da sua boca foi sentida pelos céus e pela terra…
Não mais me vais ter… nunca mais por ti espero… abandonaste-me na morte renego-te na vida…
Gawen acordou com o chorar de Dierna…
Quando lhe tocou ela retraiu-se da sua mão… não consigo sussurrou… desculpa mas não pode ser está tudo errado.
-Errado? Dierna como pode estar tudo errado? Não me faças isto por favor…
-Desculpa… não consigo respirar aqui…tenho de sair daqui… não me toques não ia suportar.
E com isso fugiu dele… das lembranças… da certeza que alguém lhe tinha roubado a alma e sem saber o que fazer para a conseguir de volta…só sabia que tinha de fugir… e de escapar de um destino feito que não queria cumprir…
Ps: Ora cá me estiquei eu outra vez… sim eu sei mas esta história está a fluir de uma forma engraçada…e nem eu sabia que rumo iria tomar… leiam e vejam se gostam… e se acharem que sim que devo continuar…eu continuo com ela… se a imaginação o permitir claro.
16 comentários:
Uma história cheia de magia....
obrigado por nos levares até à escócia :-) mais uma vez!!
espero que tenha continuação :-)
adorava saber o que se segue... vou ficar atenta.
Beijos grandes escritora :-)
OlgaM
Eu não sei se já te tinha chegado a perguntar isso, mas já pensaste em publicar um livro?
Olga,
Não deixa de ter influencias sobre o que leio... mas deixa ver onde me leva a imaginação...
Obrigada beijinhos
Fire,
As vezes penso... mas depois acho que não o ia conseguir fazer
E eu interrompo um bocado do meu trabalho para te dizer que sempre gostei de lendas, tendo por cenários Terras longínquas...tipo lenda do Rei Artur; Camelot; Braveheart; etc, etc...
Este teu conto conseguiu prender a minha atenção e na minha modesta opinião não ficou a dever a outras histórias destas...
Gostei muito! Ficarei a aguardar a sua continuação que tenho a certeza será bem interessante, tendo em conta a tua imaginação e criatividade.
Parabéns amiga
CF,
Quanta honra... interromper o trabalho pelo meu conto...
Obrigada minha querida... vamos ver o que sai.
Beijinhos
Utenamiga
Está a fluir - e bem. Longa? Chata? Longa e chata era a espada do filho que começou esta trampa a bater na mãezinha dele. Esta entusiasma e leva a que fique à espera da continuação.
Olha, uma vez em Luanda, no jornal humorístico semanal onde colaborava o Miau, decidimos fazer um folhetim, com um formato especial.
Cada um escrevia um episódio e na semana seguinte outro tomava a escrevinhadela, sem ler o papel anterior. Lindo.
Resultado: ao fim de quatro meses e picos, acabei com o desgraçado. As inúmeras personagens (cada um acrescentava mais umas) coloquei-as todas num atol do Pacífico onde se experimentavam as bombas antónias, digo, atómicas. Bummmm!!!! Vitória, vitória, acabou-se a estória.
E por estória: lá na nossa Travessa há uma que mete um pai baboso e os seus três filhotes, em... 1969. Estou mesmo velho...
Qjs
Henrique,
Amigo obrigada por tão carinhosas palavras... passo na travessa assim que possivel.
Beijinhos
Nestes momentos solitários (do meu trabalho), a honra de ler o teu conto foi minha. Acredita!:)
Além disso, de toda a miséria diária que nos "emprenha" pelos ouvidos..isto foi música :)
bjs
CF,
Olha que assim fico corada =)
Obrigada querida
Beijinho
Gostei muito do seguimento, mas olha que essa Dierna é mais que complicadinha. Não há Gawen que aguente! Por favor, dá-lhe alguma paz :)
Martini,
A Dierna não é complicada... são recordações que a baralha, =)
Mas eu gosto do Gawen... eu ainda o deixo ser feliz
A Dierna é mesmo complicadinha... Mas o que se poderia esperar, é uma mulher forte :p
Estou a gostar bastante!*
Catarina,
A Dierna está a passar por mudanças =)
Beijo
Eu sou complicadinha, será que estou a passar por mudanças? :p Estou a brincar!*
Catarina,
Todos estamos.
Tens dúvidas disso?
=)
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