sábado, 29 de outubro de 2011

A Viagem (3ª parte)

Vejamos o que a imaginação me reserva, decidi hoje dar-lhe asas e ver como evolui a história que comecei sem ter na ideia continuar. Espero que continue a agradar quem segue a história de Dierna e Gawen.


Os dias que se seguiram aquela noite de loucura, tornaram-se enevoados para Dierna, como se a separação que se seguiu entre ela e Gawen lhe tivesse arrancado um bocado do peito.
Nessa noite quando chegou não contou a ninguém o que se tinha passado, mas isso era algo que já estava habituada a fazer pelo que engoliu o sofrimento e manteve o sorriso limitado aos lábios.
Acordava cedo de manhã, porque já não aguentava ficar na cama, o mais suave roçar dos lençóis lembra-lhe o toque de Gawen e se por um lado a sensação de calor aumentava… o desespero também, por isso começou a optar por sair cedo pela manhã e forçar o corpo a caminhada, pensava ela que isso a iria ajudar a dormir á noite, sabia o seu coração que era apenas a tentativa idiota de tentar rever Gawen mesmo que á distância. Desde da fatídica noite, fazia já 5 dias que não se viam.
- Também o que querias idiota? – Pensou Dierna – Tens sorte se ele alguma vez olhar para ti de novo.
Aquela noite atormentava Dierna de duas maneiras totalmente antagónicas, por um lado a vontade de estar e sentir novamente Gawen quase que se tornava dolorosa, por outro o sentimento de angustia… de fugir dele era quase uma necessidade.
Tentou de tudo para tentar clarificar o que se tinha passado, primeiro de uma forma racional e fria… depois através de meditação… em seguida escrevendo o que sentia… até voltou lá mesmo tendo custado horrores ver do novo o sítio onde não só tinha entregado o corpo… mas a alma e nada fazia sentido.
- Ai Dierna Maria dos Santos Porcaria, admite que estás a ficar louca e o melhor e internaste. – Sorrindo levantou-se e começou a dirigir-se a pensão.
Assim que entrou chegou-lhe aos ouvidos a voz rouca e pausada do Gawen, o seu coração quase saltou do peito enquanto se precipitava para dentro… recapitulando tudo na sua cabeça que lhe queria dizer e tinha ensaiado nos dias que ficou sem o ver. E assim que entrou na sala, o choque fez com que ficasse muda.
Sentado na poltrona como se estivesse em casa estava o Octávio… o seu quase ex… quase esquecido namorado… de pé com as mãos na cintura Gawen com um olhar capaz de assustar o mais feroz dos animais selvagem e no sofá com ar divertido cunhado e irmã… Se não fosse a emoção do momento, quase que poderia ter sentido o cómico da situação… Dierna parou na entrada a ouvir a conversa:
- Sim é o que lhes digo, se não vier buscar aquela menina por um braço ela não faz aquilo que eu lhe digo – Dizia Octávio com a sua voz nasalada – aliás há duas semanas que já a tinha mandado regressar a casa, mas não sei o que lhe deu… alguma crise de idade e não obedeceu.
- Não lhe parece Sr. Octávio que a Dierna já é grandinha para saber tomar as suas decisões? Ela é muito feliz aqui e não tem o porque de aqui sair.
O tom de voz de Gawen era preocupante… porque será que o idiota do Octávio não sentia isso?
- Mas que bem! Estou a ver que estão a decidir a minha vida por mim… e o que decidem mestres e senhores posso saber? – A irritação tinha-a deixado em ponto de ebulição mas quem pensavam aquelas abéculas que eram?
- O que decidem não! Decido eu que sou teu noivo! E é que vens comigo. Já pedi aqui aos senhores para fecharem as tuas contas. – Diz Octávio
- Noivo?! Esqueceste-te de me facultar essa informação sobre a tua vida? – Gawen quase que deitava fogo pelos olhos a olhar para Dierna.
- Parou! Chega os dois. Querem o quê dar comigo em louca? Mas era o que me faltava… Antes de mais vou pedir desculpa aos donos da casa. Marta por favor ignora o pedido de fecho de contas. Aliás se possível queria prolongar a minha estada aqui na pensão. E tu Gawen podes apagar do rosto esse sorriso convencido que eu fico por mim, ponto final parágrafo.
Agora se não se importam quero dar uma palavrinha em privado com o Octávio.
O olhar que se trocaram Dierna e Gawen foi doloroso… e algo deveria ser dito para as coisas não ficarem assim azedas entre os dois mas a irritação estava patente e o momento passou-se com o fecho da porta atrás de si.
- Amor, então porque isso? Não sabes que preciso de ti? Com quem vou falar dos meus problemas a noite quando saio do escritório?
- Amor o raio que te parta Octávio, qual foi a parte da mensagem que não percebeste? Não sou a tua ama seca… queres alguém que te ouça? Pede a tua secretaria se a comes também podes desabafar os teus problemas.
- A minha… isso é bom dito por alguém que se veio meter debaixo do primeiro pacóvio que encontrou.
- O Gawen é melhor que tu numa unha do dedo mindinho. E o que foi? Pensavas que não sabia? Que foi um rasgo de loucura ter vindo para aqui… não tenho de te dar explicações nenhumas. Apenas uma coisa que tenho a pedir… sai daqui para fora antes que eu perca a cabeça!
- Se eu sair não precisas vir implorar para eu voltar… ouviste?
- Ouvi…ouvi… cumprimentos á secretária.
Assim que ouviu a porta bater, o cansaço que se apoderou dela foi demasiado… saiu para falar com a Marta e o marido, pedindo desculpa pelo sucedido e depois dirigiu-se ao quarto e caiu na cama sem ter sequer tempo de se despir.
Acordou agitada, como se alguém lhe tivesse gritado aos ouvidos… levantou-se com uma sensação de angústia no peito, vestiu o casaco e saiu para a rua… sem saber o destino… apenas com a sensação que algo de grave se passava.
Detectou o brilho dos faróis a dois km do círculo de pedras e mesmo sem saber de quem era o carro, soube que Gawen estava em apuros… correu para lá com o coração apertado e quando chegou deu com o corpo inerte do homem que amava a poucos metros do carro.
- Gawen – chamou – estás a ouvir-me meu amor…
Por favor…por favor…outra vez não! Dierna conseguia ver por detrás das feições de Gawen outras feições amadas… que tinha perdido… não mo tires outra vez.
Pegou no telemóvel que se tinha lembrado de trazer e chamou ajuda… e depois deixou-se ficar com ele nos braços… enquanto chorava e rezava. A Deusa… a Deus… a todos os que se lembrava e aqueles que julgava esquecidos.
O tempo foi passando… até ouvir ao longe a doce voz da Marta:
- Larga Dierna, os paramédicos têm de cuidar dele para o levarem para o hospital. Estás a ouvir querida? Larga o meu irmão.
- Desculpa Marta… sim claro eu largo. Diz-me onde é o hospital e eu vou lá ter.
- Não vai tu com ele na ambulância, tenho a certeza que é o calor do teu corpo que mantém o meu irmão ainda entre nós…
… - São os senhores os membros da família do Sr. Gawen?
- Sim Dr. Somos nós.
- O acidente foi muito grave, não sabemos nem como ele se manteve vivo tanto tempo com o traumatismo que contraiu… neste momento está sedado… vamos mantê-lo assim por algum tempo… queremos minimizar quaisquer sequelas. Podem ir vê-lo e se quiserem pode ficar um membro da família com ele. Quem é a Dierna? Ele murmurou esse nome nos breves instantes que esteve consciente. Seria bom se fosse ela a ficar com ele.
- Não te importas de ficar Dierna? Por favor? Eu vou só vê-lo e ficas…
- Claro que sim Marta eu fico… só preciso de algo para vestir… trazes-me depois alguma coisa?
O tempo foi passando… uma semana… duas semanas.
A carta de rescisão da empresa chegou e continuava sem resposta… e o desespero aumentava…
Na noite da 13º dia do acidente, Dierna acordou com os sentidos apurados… do lado da cama estava alguém que ela reconhecia…
- Sra. Enfermeira? Passa-se alguma coisa?
- Enfermeira? Não me reconheces? Não vês em mim… tu Dierna?
- Por favor, eu sei que ele te deixou sozinha… mas ele já não é o mesmo… muitas vidas se passaram… deixa-o viver.
- E que estás tu disposta a fazer para isso?
- Afasto-me dele… vou embora… sacrifico-me por ele, como tu não te sacrificaste… e isso que queres? É até aí que vai a tua maldade? Não foste feliz e eu também não posso ser?
- Não te peço isso… sossega criança… ele vai acordar para ti.
Dierna despertou com o suave roçar de uma mão no seu cabelo… quando olhou para cima deu com o olhar cinzento de Gawen a encara-la…
- O que estás aqui a fazer? A minha irmã…
- Está em casa… eu vou ligar-lhe e chama-la sim? – Saiu com as lágrimas nos olhos… que mais queria ela? Tinha-o desprezado… mandando sair… não podia esperar outra coisa.
- Marta o teu irmão está a tua espera… eu vou para casa sim?
- Mas não entras também?
-Não. Ele está a tua espera.
O dia estava chuvoso, quando finalmente Gawen saiu do hospital… deveria ser naquele instante que ele tinha saído… Não tinha lá voltado depois do despertar… Mas ele estava bem Marta tinha-lhe dito…
- Muito gostas tu de me fazer vir buscar-te em situações extremas menina!
Dierna voltou-se lentamente e lá estava ele… altivo como ela o conhecia e amava…
- E tu gostas de viver perigosamente não é? Saíste agora do hospital e já estas debaixo de chuva?
- Dás-me abrigo debaixo do teu chapéu?
O calor do corpo dele junto ao dela deixou-a sem conseguir respirar…
- A minha irmã disse-me que passaste os dias todos que estive desacordado no hospital… Obrigado eu…
- Não tens de agradecer… eu…
- Amo-te Dierna… céus como te amo… amo essa cabecinha complicada que me deixa a beira da loucura… não consigo viver sem ti. Não tens de retribuir mas gostava que soubesses disso e…
- Ai cala-te… a sério cala-te como podes tu amar-me depois do que te fiz?
- E eu sei? Amo-te e pronto… e sei que tu não…
- Eu não o quê? Não te amo? Amo sim… mais que a minha própria vida…
O resto ficou por dizer em palavras… mas o beijo que deram deixou tudo bem esclarecido… foi o começo de algo muito especial… de algo único.
E não termino com o foram felizes para sempre porque isso existe em contos de fadas… e esta é história de uma vida que poderia ser real…
.
.
.
- Mãe… esta história é sobre ti e o pai não é?
Dierna olhou para a pequena que estava no seu colo… que a olhava com os olhos cinzentos do pai mas que tinha herdado o seu revolto cabelo…
- Não sei meu amor pode ser…
- Pai é não é? A tua história e a da mãe?
- Pode ser princesa… pode ser…
- Ai digam lá… bolas…

E termina aqui a história de Gawen e Dierna... ficou grande mas não quis dividir em mais dois capítulos senão nunca se sabe quando acabava... espero que gostem... a mim deu-me um prazer imenso...


10 comentários:

Anónimo disse...

"O gosto pela escrita cresce à medida que se escreve." - Erasmo de Roterdão.

E tu estás a escrever cada vez melhor!! Muitos parabéns pelo conto, por me transportares para as belas e mágicas terras da Escócia!!
Não ficou nada longo....ainda lia mais. Ficou perfeito!
Muitas beijocas,
OlgaM

Paula disse...

Olga,

Obrigada =) uma frase dessas deixa qualquer um embebecido...
Ainda bem que gostaste, tive medo que se torna-se cansativo...

Beijinhos

Unknown disse...

É o que digo, devias publicar o que escrever... agora junta tudo o que escreveste e fazes uma compilação. Se quiseres eu posso falar com uma amiga que trabalha numa editora...

A foto mexeu comigo... fez-me lembrar umas cenas já passadas e que permaneceram. :S

Paula disse...

Fire,

Junto tudo o quê? Os diferentes textos do blogue?
Será que isso funciona assim?
Sabes que as vezes o bichinho do publicar mexe comigo...

Romântico o meu Ghost Rider... existem momentos assim... que não passam

CF disse...

Utena
Este teu conto ficou muito bom...deves contnuar com outros :)
sabe bem ouvir um final feliz no meio de tanta infelicidade que se ouve por aí!
bjs

Unknown disse...

LOL! Fez-me lembrar o primeiro amor... também à chuva, abraçados...

Fogo! Já foi há tanto tempo!! X|

Paula disse...

CF,

Não sabia que volta lhe dar mas penso que os contos têm essa boa compartida...
Dá para lhes dar o happy ending que nunca temos na realidade da vida.

Beijinhos

Paula disse...

Fire,

Até parece que já estás com os pés para a cova...
Agarra a moça e tasca-lhe outro beijo assim...

=)

Catarina disse...

Gostei :) O final foi surpreendente!*

Paula disse...

Catarina,

Fico feliz

beijo