quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O prazer que se esconde em algo que pode ser banal

Sou uma mulher de pequenos prazeres, acho que nos tempos que correm dou cada vez mais valor a pequenos gestos.
Um dos meus prazeres é sem dúvida uma boa conversa… um bom debate. Detesto aquelas pessoas que concordam com tudo… que parecem aqueles bonecos que se colocam no carro e que abanam a cabecita de cima para baixo.
Tal como também não tenho paciência para conversas de circunstancia… do género:
“Olá tudo bem? Tudo e contigo? Tudo! Está de chuva hoje… Pois é verdade está… mas está tudo bem certo? Sim tudo e contigo também não é!”
Mexe-me de sobremaneira com o sistema nervoso.
Tal como não tenho nenhuma capacidade de tolerância para os donos absolutos da verdade… as personagens com ar emproado que podem estar a dizer o maior disparate mas que mesmo assim mantém a sua e chegam a tornar-se ofensivos e mal-educados. Aí nada como resolver o assunto com uma pitada generosa de sarcasmo e uma dose reforçada de cabrice.
Não o que me dá prazer é aquelas conversas inteligentes, a troca de ideias onde todos saímos a ganhar, onde as horas não passam… voam.
Tenho a sorte de ter na minha vida pessoas especiais com quem converso de forma bastante recorrente. E o próprio tipo de trabalho que tenho proporciona esses mesmos estados de entrega.
Aliás o que sinto é que existe falta dessa conversa pelas pessoas que cá passam, acho-as até sedentas de estes momentos raros de partilha onde se pode falar de tudo e não existe uma tentativa errada de se impor ideias que não são propriamente as nossas.
E eu sou uma mulher de ideias… de defender as minhas ideias de forma bastante dura mas não as imponho… exponho…argumento e ouço a opinião contrária… não que mude muitas vezes a minhas mas por norma acrescenta sempre algo de novo.
Mais para mim saber conversar, saber criar e manter uma conversa é algo que se aprende… que vem com a idade.
Há já alguns anos li um livro que se chama a “Profecia Celestina”, um livro que aconselho vivamente a ler que fala disso mesmo.
Resumindo o que eles dizem é que numa conversa desde de que exista atenção da nossa parte, conseguimos ver quando é a nossa vez de falar e quando devemos ouvir e realmente isso acontece é quase como uma mudança subtil de energia no ar que nos dá aquele clique de que algo deverá ser dito por nós… ou que algo do que está a ser dito deve ser escutado com atenção.
Está certo que raramente o sinto, as pessoas hoje em dia tendem a ter presa para tudo e a saltar etapas, sobrepondo até a sua voz a nossa elevando-a.
Como se por algum motivo não disseram o que têm a dizer vão ser colocados de lado…na realidade pouco têm a ganhar quando o fazem e perdem algo valioso… a partilha.
As palavras são poderosas…tanto escritas como faladas e deveriam ser ponderadas e usadas com moderação (quase parece uma campanha se conduzir não beba) mas é verdade.
Quando algo é dito sem ser pensado ou ponderado… quando se pega na palavra e se atira ao vento sem apelo nem agravo pode-se magoar alguém de uma forma catastrófica.
E depois de dita não se pode voltar atrás com arrependimentos ou desculpas… pois já diz a minha mãe, “desculpas não se pedem evitam-se!”
Ponderar o que se diz…moderar o que se escreve. Ver nas palavras a importância que realmente elas têm e usa-las com amor…
Os antigos não passavam por exemplo conhecimentos para o papel com medo da forma errada como poderiam ser interpretados…passavam-nos oralmente e apenas aqueles que eram merecedores.
Se concordo? Penso que infelizmente nem todos tendem a ter a capacidade para absorver grandes conhecimentos, mas que todos têm a capacidade de os ter basta lutar para isso.
Estamos numa época de facilidades, onde tudo tem o dever de nos cair no colo e perde-se cada vez mais o instinto de sobrevivência. E se em tempos antigos era a força física, a capacidade de se “arranjar” comida…hoje é o trabalho árduo de deixar de ser ignorante.
E ignorante não é aquele que não estuda… é aquele que não escuta…que não procura outros conhecimentos que a vida académica não nos dá… mas que uma bela conversa nos proporciona.
Mesmo ali a mão de semear.
E um fim de tarde num cenário de somenos importância com uma bela conversa, onde se fala de banalidades… onde se ri das lembranças…onde se discute conhecimentos e onde no fim se olha para o relógio e se exclama:
“Xi já são estas horas? Bolas passou mesmo rápido o tempo! Temos de combinar novo encontro para terminar a conversa…ou eu ligo-te logo e falamos mais um pouco” é um dos meus mais belos prazeres.
Tenho sorte de ter amigos maravilhosos para o puder dividir… a vocês que sabem quem são o meu obrigada…
Namasté

10 comentários:

Anónimo disse...

Como disse a Lya Luft num texto: “a palavra faz parte da nossa essência: com ela, nos acercamos dos outros, nos entregamos ou nos negamos, apaziguamos, ferimos e matamos. Com a palavra, liquidamos negócios e amores”.Incrível como uma palavra pode fazer a felicidade total de outra pessoa ou a sua infelicidade! Como se pode aprender tanto numa conversa, numa passagem de conhecimentos, simplesmente conversando, ouvindo os nossos anciãos, fazendo silêncio e ouvindo... sim, porque o silêncio também tem o seu valor, tanto quanto a palavra... há que saber ouvir, há que saber usar a palavra... vamos então usa-la para o bem, please....bem ponderadinha, pois como diz a tua sábia mãe, as desculpas não se pedem evitam-se... e quando as palavras nos saem da boca para fora, vãs e vazias, geralmente causam arrependimento.
Beijinhos grandes,
OlgaM

Paula disse...

Olga,

E esses arrependimentos são os que podem ser evitados.

Beijinhos

CF disse...

Minha amiga
saudades que tinha daqui...muito trabalho! rsrs
para não correr o risco de maçar-te com banalidades (lol) apenas acrescentar que existem silêncios nas conversas que nos ensinam muito mais que as palavras, concordas? Estás a ver qd isso acontece? pois...qd tudo dizemos só com a linguagem não verbal...
bjs

Paula disse...

CF,

Saudades de ti também mulher, tive para te "massajar" um dia destes.

Sim os silêncios dizem muito mas são sempre ditos no dialogo de um olhar

Beijos

Anónimo disse...

Também odeio pessoas que concordam com tudo. Ou que não tem opinião.

Peo desculpa pela ausência, cara amiga, apesar de uma nova face, cá está a velha Mary. Visita-me no meu novo cantinho.

Beijinho
"Mary"

Paula disse...

Mary,

Olá minha linda já estava com saudades tuas.
Vou lá ao teu cantinho

Beijinhos

Unknown disse...

Oh ruivinha, mas eu digo-te muitas coisas que eu acredito convictamente ser a verdade... isso não te choca, uma vez que eu sei que tu não concordas comigo? Ou é a minha postura que faz toda a diferença?

Paula disse...

Fire,

Eu adoro os nossos debates meu Fanático preferido...
E sim a tua postura é que faz toda a diferença e sabes bem isso.

Beijo

Jp disse...

" “Olá tudo bem? Tudo e contigo? Tudo! Está de chuva hoje… Pois é verdade está… mas está tudo bem certo? Sim tudo e contigo também não é!”
Mexe-me de sobremaneira com o sistema nervoso. "

Isso é porque essas pessoas já não fazem ou nunca fizeram parte da tua vida. São espectros.
Quanto ao resto, as pessoas que abanam a cabeça e mais não sei quê podem fazê-lo por vários motivos, ou porque querem agradar, ou porque estão a ser simpáticos/as porque sim, ou estão-se nas tintas e querem é se despachar e não não estão com conversas. Sem lhes perguntares nunca hás-de saber.

Bjs, Sharky.

Paula disse...

Sharky,

Existem pessoas que não valem a pena conhecer.
Mas se pensas que não tentei antes? Estás enganado.

Beijos