segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Saber que...


Algures na curvatura da suposta evolução humana algo aconteceu que fez o Homem olhar ao espelho e considerar-se igual a Deus.
E por mais que os livros antigos nos “martelem” a cabeça com a ideia que Deus nos fez á sua semelhança, penso que terá sido por essa altura que se começou a considerar a vida de uma forma absurdamente materialista.
Deixem antes de mais esclarecer uma coisa eu não sou católica, fui baptizada porque o destino conspirou para que assim fosse, pois era vontade dos meus pais que com uma idade mais consciente eu escolhesse que religião seguir, mas um pedido inegável fez com que eu recebe-se o baptismo.
Mas nada tenho contra as ideias de uma religião maioritariamente criada por homens (e aqui a letra minúscula é propositada).
Pensando bem não existe uma religião especifica que siga e não sou definitivamente ateísta, sou alguém que antes de ouvir os outros se ouve a si mesma, no silencio da noite ou nas brumas de um dia de chuva e que sente que na religião como na vida o equilíbrio entre o masculino e o feminino é a base de tudo.
Mas não é sobre religiões que hoje me apetece “idealizar” por este meu canto de palavras soltas, o tema é quente demais…polémico demais… e pessoal demais para ser falado num texto com um número limitado de palavras. Confesso que gosto de o discutir com quem saiba do que fala não porque levou uma injecção em miúdo e esqueceu-se de tomar o antídoto mas com quem sabe que no fundo todas têm uma raiz comum e todas merecem respeito. É um tema fascinante que já me fez esquecer das horas… do tempo e mesmo do espaço.
Não o que me levou a falar a escrever hoje foi a tomada bruta e consciente que cada dia se infiltra mais no meu ser que se dá valor ao que não se deve…se critica o que não se sabe e se esquece aquilo que realmente importa nesta passagem pela vida que todos fazemos.
Nós não somos Deuses… não temos o poder de influenciar a vida dos outros prolongando a sua dor ou o seu estado de sofrimento e é isso que vejo em pleno Séc. XXI cada dia se prolonga mais a doença (não a vida) a doença… de uma forma dolorosa…inumana… fria e acutilante.
A vida humana é sagrada mas também é tão frágil como as asas de uma borboleta que quando perde o seu pó mágico a impede de voar…
Acredite eu no que acreditar… por mais dor que isso me possa causar não posso deixar de constatar que nos tornamos egoístas…porque adiando a morte muitas vezes não se prolonga a vida…aumenta-se o sofrimento.
Hoje aqui na loja quando vi aproximar-se da porta uma das mulheres mais corajosas que conheço e que luta com a doença que não interessa arranjar cura, passo a passo… uma imagem deturpada de si mesma…baça… lutando para conseguir se manter em pé…erguendo a mão em cumprimento mas não aquele cumprimento que nos arranca um sorriso fácil mas aquele que nos mostra o quão cansada está…senti como se tivesse levado um murro na barriga e perdi o ar e as forças…
E a ouvi dizer em voz tremula que se sujeita a tratamentos de 5 horas com a indicação do médico que se desiste morre e que se os fizer não sabe se vive… que no fim e com um suspiro diz :”
Eu não vou desistir” - não consegui deixar de pensar quando foi que na curva da evolução o homem se esqueceu que é a imagem de Deus ou da Deusa e se tornou a parte negra dos mesmos…
Quando foi nessa maldita curva que se esqueceram que na vida mais que a realidade conta a caridade que se necessita muitas vezes sem se pedir?
Não sei… mas que me assusta…isso assusta.
Namasté

16 comentários:

Eva Gonçalves disse...

Eu acrdito em Deus, mas não tenho religião nenhuma :) Adoro as tuas crónicas. Há como dizes, doenças que são marginalizadas quer na investigação, quer no investimento em soluções terapéuticas e assistência aos doentes. penso que se fizram grandes progressos no combate à dor... mas por motivos que desconheço, existe, pelo menos neste País, uma ideia de que se deve começar pela medicação mais fraca em vez de eliminar a dor, para além do desprezo total pela percepção de dor dos doentes... mas isto levava-nos longe :) Eu já trabalhei numa clinica de dor do IPO no Porto... os médicos fazem o melhor que podem... nós somos a parte negra e branca de Deus... porque Deus somos nós... e nós sempre fomos imperfeitos não houve curva nenhuma de evolução... não houve foi evolução ... Beijo

Unknown disse...

Não concordo com o que acreditas ser o Catolicismo, mas compreendo e respeito o teu ponto de vista. Hoje em dia já é possível desbaptizar-se - que é o fim lógico e coerente do vínculo pessoal à Igreja - e também um favor que a pessoa - que não se considera católica e que foi baptizada contra a sua vontade (ou queria o Baptismo e arrependeu-se) - faz a si própria e também à Igreja.
A partir do momento em que o homem abandonou Deus e, conforme a tentação da Serpente, acreditou que poderia ser também ele um deus, a humanidade começou a cavar a sua própria sepultura. Os efeitos nefastos dessa atitude na nossa sociedade ocidental, moldada de forma superior pelo Cristianismo, são por demais evidentes.
No exemplo que deste, muita gente tiraria a "óbvia" conclusão que Deus não existe ou tem prazer em ver gente sofrer (um raciocínio que curiosamente não se aplica de forma inversa), mas a coragem da mulher reflecte na perfeição a sacralidade da vida. Um exemplo no qual todos aqueles que não páram de destruir as suas próprias vidas deveriam pôr os olhos.

Beijinhos.

Paula disse...

Eva,

És como eu na parte de acreditar em Deus embora eu acredito na Deusa também e no poder de equilíbrio que eles têm juntos.
A verdade é que deixou de haver respeito pela vontade do doente e pela sua dor… física ou espiritual e isso é que assusta. Prolongar a morte na vida até quando?
E o direito do individuo a deixar de sofrer?
Sermos imperfeitos nada têm de mal para mim mas acharmos que sabemos tudo e controlamos tudo é que me deixa irritada.

Beijinho

Paula disse...

Meu querido Fire,

No pouco tempo que me comentas e lés e que te sigo a ti já consegui verificar que tens ideias muito próprias. Algumas que concordo outras que nem por isso mas que a todas respeito.
Nada tenho contra o Cristianismo na pureza que Cristo expunha, embora mesmo essa tenha sido já deturpada. Mas para mim quando o homem avança sobre assuntos divinos e impõe a sua vontade só pode dar asneira.
Quanto ao facto de desbaptizar ou não é algo que poderíamos discutir mas não aqui… o assunto é demasiado importante para ser tratado por palavras…sem o olhar ou a entoação da voz.
Eu nunca me afastei de Deus… tal como não o faço da Deusa…só vejo um com o outro. Para mim não existem muitos Deuses ou Deusas existe apenas um com vários nomes… um ser supremo que nos olha e que não nos abandona apenas nos deixa caminhar.
O homem afastou-se Deles porque se sente ele próprio Deus e isso é que me assusta a capacidade que o homem adquiriu de encontrar numa coisa aquilo que já tinha e desprezou que é nada mais que fé.
Aquilo que os outros escolhem acreditar para mim é igual… eu acredito no que acredito e no que já tive provas disso…que a vida é mais que aquilo que vemos a “olho nú” mas que mais que isso o homem só pode verdadeiramente viver quando mantém a fé e a esperança…
=)
Um beijo enorme
Ps: Qualquer dia mando-te um mail e falamos disto de uma forma mais directa =D

Unknown disse...

Isso soa a paganismo, ou seja, à Gnose.
Claro, há que haver respeito. O que não significa aceitação, pois eu como católico não posso aceitar o que não seja católico em termos religiosos. Mas não se pode impor nada a ninguém, tal como Deus - que nos deu o livre arbítrio - também não nos impõe nada. Até Cristo não obrigou ninguém a segui-lO, portanto quem somos nós?
A gente conversa, debate, troca pontos de vista. Muitas pessoas acabam por se converter ou se reconverter (como eu) de maneira simples, através da procura pela verdade. ;)
Sim, com certeza, qualquer dia havemos de falar acerca disso se tu quiseres. Ia adorar conhecer melhor o teu lado religioso.

Beijinhos.

João Paulo (Sharky) disse...

Há pessoas que não desistem da vida, por mais curta e dolorosa que seja. Todos os momentos/minutos são preciosos. Tanto para ver/fazer e tão pouco tempo o nosso.

Teresa Santos disse...

Utena,

Tema demasiado sério, demasiado delicado.
Em síntese, e independentemente de se ser crente, ou não, há uma coisa chamada bom senso.
Quando uma pessoa sofre de uma doença que se sabe sem retorno, porque obrigá-la, sujeitá-la a um sofrimento maior?
Mas atenção, se a pessoa quer, como a senhora que referes, aí minha cara amiga, não lhe deve ser negada essa réstea de esperança.
Já tenho abordado e comentado esta temática (recentemente no blogue da CF), e não há dúvida que estamos perante uma questão que levanta n dúvidas.
Beijinho.

Paula disse...

Fire,

A verdade é que Deus e a Deusa (desculpa mas apenas vejo as coisas nas duas vertentes) para mim é tão pura e simplesmente o amor incondicional que temos a capacidade de ter.

Um dia destes faço-te uma surpresa no teu inbox... ou fazes tu a mim... estás a vontade.

Beijinhos

Paula disse...

Sharky JP,

A vida é o bem mais precioso que temos... e dele ser cuidado e protegido.

Beijinhos

Paula disse...

Teresa,

Eu sou das pessoas que respeitas todas as ideias mesmo quando não as aceita.
Contraponho... mostro o meu ponto de vista mas respeito.
Aqui para mim o que está em questão é a falta de humanidade que abunda por aí

Beijinhos amiga querida

Unknown disse...

Não tens de me pedir desculpa; é o teu ponto de vista. Respeito-o. Mas olha que isso de venerar a Deus parece-me coisa neopagã da WICCA. Será esse o teu caso? Ou é apenas uma opinião pessoal? Um dia talvez eu tire isso a limpo. :)

Beijinhos.

Nokas disse...

Eu costumo dizer que sou crente à minha maneira! E é isso que importa...

Paula disse...

Fire,

Não sou Wicca...
Acredito somente no equilibrio...
Quem sabe um dia falamos mais a fundo sobre isso. =)

Beijinho

Paula disse...

Nokas,

Sim isso é o mais importante...
Acreditar sem impor.

M.J. disse...

Já falamos sobre religião e já sabes o que acho em relação a isso, é um tema que dá panos para mangas e bastante "controverso"...

Em relação ao ser humano, por todas as religiões existem Homens e como todos têm as suas imperfeições, claro que alguns deles deveriam dar o exemplo mas são os primeiros a falhar... o que fazer nesses casos?

Não sei se escrevi aqui ou não mas o ser humano cada vez é mais egoísta e porquê? Porque é que o ajudar, o estar não são palavras que deveriam constar em todos os dicionários pessoais?

Apesar de novo e que as vezes as pessoas possam pensar que por ser novo ainda não vivi nada e tal posso dizer que já vivi alguma coisa, não só pela vida profissional como vida pessoal e dei por mim muitas vezes revoltado com o que vejo mas não desisto pois acredito que se todos fizerem 1 pouco, se todos ajudarem um pouco o mundo poderá ficar melhor! se é utopia? nada disso, é a realidade mas o ser humano está cada vez mais descrente e não acredita nas suas capacidades!

Já me estiquei um pouco no comentário, desculpa.

bjs

Paula disse...

M.J.

Sabes que aqui estás a vontade para te esticares o quanto quiseres.
Concordo com tudo o que dizes, sem dúvida que faz falta humanidade...
Utopia?
Nem um pouco é apenas a realidade dos factos.

Beijinho