terça-feira, 11 de outubro de 2011

A viagem


Dierna suspirou enquanto passeava pelo quarto… aproximou-se da janela balançando as costas e esticando os músculos que estavam encolhidos da longa viagem de avião… olhou para fora e ficou admirada com a plenitude verde que se estendia num campo sem fim…
Abando a cabeça pensou:
Finalmente, a viagem tão desejada… Escócia… quando disse em casa que a planejava fazer acharam que tinha enlouquecido de vez… quem sabe talvez tivesse mesmo.
Mas enquanto planeava tudo, desde da licença sem vencimento… ao roteiro não parou para pensar ou então desistia e de desistências estava ela farta.
Passou os olhos pelo quarto da pensão e sorriu… era mesmo isto que ela precisava… nada de hotéis faustos ou programas de turismo.
Apenas ela e a beleza selvagem do país que amava mesmo antes de conhecer… arregaçou as mangas e pôs-se a desfazer as malas… quando acabou sentiu-se em casa. Aquele espaço proporcionava mesmo isso… o sentimento de se estar em casa. E o casal que o geria era extremamente simpático… aliás exageradamente simpático.
Sorrindo esticou-se na cama… apenas 5 minutos de repouso e depois descia para o jantar.
Acordou já a madrugada despontava pela janela, afinal estava mais exausta do que aquilo que pensava, bochechou admirada com os ruídos sonoros do seu estômago… bem cansada já não estava mas esfomeada… estava e não era pouco. Desceu sorrateira à cozinha enquanto ligava o telemóvel e verificava as mensagens…
Enquanto cortava uma fatia generosa de bolo ouviu:
“Foste mesmo dizendo-te para não o fazeres… não entendes as minhas necessidades nem o que eu preciso do teu apoio. Se não voltares até ao fim de semana não precisas de voltar mais pois não te espero!”
- Mais uma desistência - pensou ela – das minhas necessidades não pensas tu….
Saiu para o frio da aurora, descalça enquanto olhava para a terra das místicas fantasias e dos Hilander’s da sua juventude… o silêncio que se sentia era envolvente e quase amante… degustando o bolo foi caminhando suavemente pela encosta.
Parou quase sem dar por ela junto a umas pedras olhou admirada com as características quase idênticas a um outro que nunca tinha visto mas que tanto tinha ouvido falar – Stonehenge – sabendo que provavelmente se iria arrepender entrou no círculo e o que sentiu no seu interior arrepiou-lhe a alma…
Amores separados… morte…sangue…gritos… luta constante por ideais e por direitos tantas vezes negados… mas não desistência apenas perseverança.
Por mais que tenta-se sair, as pernas não obedeciam ao seu comando e assim ficou sendo avassalada por sentimentos fortes demais para uma pessoa cujo o espírito se encontrava a descoberto… Chorou com os amores separados…lutou junto dos guerreiros…curou com as sacerdotisas… amaldiçoou os invasores… até que exausta sucumbiu de joelhos e ofegante se deixou ficar sentindo nas mãos o frio da erva…
- Está doida? Não sabe que não pode entrar no círculo pela madrugada?
Olhou para cima e com os sentidos ainda deturpados olhou para o homem que a recriminava sem conseguir identificar as suas feições… Era loiro e alto e depois moreno e forte… foi amante… amigo… irmão… mas nunca o tinha visto…
Enquanto desfalecia ouviu-se dizer:
Desculpa não te queria deixar.
Acordou nessa tarde na sua cama como se tivesse sido atropelada por um camião… levantou e desceu confusa com o que se tinha passado.
-Ainda bem que acordou, estava a ficar preocupada, o meu irmão deixou-a ficar aqui esta manha… nunca o tinha visto tão zangado… diz que estava no circulo pela aurora. Não devia lá ir sabe…
- Não sabia peça desculpa ao seu irmão não queria invadir a sua propriedade…
-Não aquilo não é dele, é da comunidade… mas penso que ele se assustou quando a viu… diz que sentiu na pele que a conhecia.
Engraçado pensou, também eu e no entanto não me consigo lembrar das suas feições.
-Vejo que já está de pé… veio de férias e esta já com vontade de arranjar sarilhos com os espíritos da terra?
O homem que lhe falava era típico da região, alto e musculado com a certeza que a verdade era dele e que as suas ordens não podiam ser discutidas… a alma guerreira saiu cá para fora com a força de um tornado… quem aquele idiota pensava que era?
- Obrigada pela ajuda, mas que eu saiba não lha pedi… ou não faz mais nada que salvar donzelas em perigo na madrugada?
Olhou para ela como se tivesse sido atacado e com olhos enevoados disse:
- Donzelas não… mas sinto que a ti já salvei algumas vezes!
E com isto saiu… deixando-a com uma enorme sensação de perda…
O telefone tocou na mão dela o que a fez dar um salto… atendeu:
- Pensaste no que te disse? Estou a tua espera este fim-de-semana… preciso que me ouças e que estejas aqui quando eu preciso…
-Sim, estou a ouvir… sim já sei que tens as tuas necessidades… procura uma baby sister…
E desligando o telefone saiu para o dia… quem sabe para aquela que seria a aventura da sua vida nas terras verdes que tanto a faziam sonhar.
PS: este com o embalo que ia... era capaz de ficar longito demais... quem sabe não tem depois continuação

18 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito mesmo!!

Que saudades da minha querida Escócia!!
Parecia que estava lá com as tuas palavras.

E, oh amiga, isto merece mesmo uma continuação... quero saber que mais espera a heroína da história e o alto musculado lol!!
Beijos grandes
OlgaM

Paula disse...

Olga,

De facto isto ia embalado apenas não escrevi mais para não se tornar maçudo... quem sabe não volto à Dierna =)

beijinho

Eva Gonçalves disse...

Tinha lido de bom grado mais e mais... :) continua! beijo

Paula disse...

Eva,

Obrigada =)
Logo veremos a continuação.

Beijinho

Anónimo disse...

Planejava ou planeava?
Baby sister ou baby sitter?

Anónimo disse...

Aqui estou eu para continuar a seguir-te, querida Utena!
Os teus textos são fascinantes :)
Beijinhos

Paula disse...

Anónimo/a,

E dizer olá ou bom dia antes não?
Não se preocupe com erros desfrute... se calhar vive a vida mais feliz.

Bem haja

Paula disse...

Sofia,

Bem vinda querida obrigada pelo sempre presente carinho

Beijinho

A Minha Essência disse...

É interessante, chegar a um sítio (neste caso blog), e o que quer que esteja em foco, conseguir prender a nossa atenção. Gostei bastante! :)

CF disse...

Utena
Devias dedicar-te a estas histórias...deliciam as almas românticas, de forma que eu aguardo continuação...
Tb tenho um fetiche pela Escócia e irlanda...pela Escócia, cresceu qd vi a primeira vez o filme "braveheart" um dos meus preferidos...acho que não preciso explicar-te porquê..lol
bjs

Paula disse...

Essência,

Bem vinda a esta casa antes de mais, espero continuar a manter essa espectativa...
Obrigada

Paula disse...

CF,

Gosto de imaginar cenários ideais onde o amor ganha em tudo.
BTW essa paixão não será a conta dos kilts?

Beijinhos

CF disse...

lolololol
É uma hipótese bem apreciável...será que comungas do mesmo gosto? :)
bjs

Paula disse...

CF,

Então não minha amiga?
Principalmente em dias de muito vento
=)

Anónimo disse...

E lá está a mente criativa da Utena a funcionar. Esse conto lembra mesmo aqueles filmes de suspense sobre viajantes e curiosos atraidos que por uma qualquer razão, chegam a lugares recônditos e muitas vezes o seu sonho torna-se um pesadelo - o tal receio do desconhecido :)

Adorei e julgo que deverias continua-lo quando te achares mais pre-disposta à escrita. Deixas uma tag para podermos acompanhar a história facilmente :)
Bjs

Paula disse...

Martini,

De vez em quando preciso de me refugiar mesmo da realidade e a Escócia para mim é daqueles sítios que activa o lado criativo de cada um.

Se a continuar eu indico a etiqueta aonde podem seguir o conto.

Beijinhos

Catarina disse...

Hum, a primeira parte já está... Estou curiosa pela continuação :)*

Paula disse...

Catarina,

Espero que gostes